segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Haere mai! - NOVA ZELÂNDIA (finalmente)

Kia ora!
(Maori para greetings!)

Finalmente escrevo a partir da terra dos Kiwis (não o fruto, mas sim o animal símbolo desta nação perdida num canto do Pacífico), a 19 472Km de casa

Chegar aqui não foi fácil. Se a minha família e amigos acham que eu chorei muito em Lisboa, deviam ter visto a minha figura no aeroporto de Sydney. 

Custou-me mesmo horrores deixar a Madalena (e o Pedro, vá...).


O taxista foi super impecável e paciente. "Departures are always hard!" disse ao volante, e eu atrás concordava entre rios de lágrimas, baba e ranho.

Bati mesmo no fundo. Apercebi-me de que era o fim da brincadeira; altura de virar mulherzinha e vir fazer aquilo a que me tinha proposto fazer.

Já no aeroporto, o Leo perguntava-me de dois em dois minutos se eu estava mesmo bem. Acho que ele estava com medo que me desse alguma coisinha má.

Arrastei-me pelo terminal, desde a zona dos seguranças à porta de embarque. Chorei mais um pouco e embarquei.

No meu lugar à janela continuei no meu pranto, o Leonardo continuava a olhar para mim desesperado sem saber o que fazer. As pessoas iam entrando e os dois lugares ao meu lado continuavam vazios. No meio daquela solidão estúpida que eu estava a sentir, fiquei feliz porque pensei que ao menos poderia esticar-me e dormir para parar de pensar em tudo o que me ocorria.



Uns dois minutos antes de o embarque terminar entram 5 pessoas no avião e os lugares ao meu lado foram ocupados por um casal de terceira idade. Maravilha.

Todo um cenário muito dramático para acompanhar o meu estado de espírito

Neste primeiro voo (sim, ainda foram precisos dois voos a partir de Sydney para cá chegar) vim na Virgin Airlines. Eu achava que era uma companhia low cost, sinceramente nem me informei muito bem e continuo sem saber mas low cost ou não, deu MIL a ZERO à Emirates. Muito mais espaço entre bancos, bancos de pele e confortáveis e excelente entretenimento e comida a bordo.

Ao fim de meia hora de viagem estava a desesperar. Não tinha nada com que me entreter, ou se tinha não me apetecia. Não havia ecrã tátil desta vez e a minha cabeça continuava a mil à hora. 

Do nada, as hospedeiras passam com um carrinho e começam a distribuir tablets Samsung a passageiros que estavam numa certa lista. Sempre muito optimista parti logo do pressuposto de que o meu nome nunca na vida constaria em tal papel. Eu tinha comprado o bilhete regular pela Air New Zealand e estava a viajar numa companhia parceira por isso não me estava a ver merecedora de tal privilégio.

Até que "Miss Joana Lima would you like your tablet for flight entertainment?" "Yes, pleaaaase!". O entretenimento era feito via Wi-Fi, e havia toda uma seleção de filmes (havia uma categoria só para o Leonardo Di Caprio!!!) e música (com muito destaque para bandas australianas).


Eu que adoro estes gadgets limpei as lágrimas e comecei a brincar até servirem o jantar. Um bocadinho antes disso foram distribuídos os questionários de imigração para a Nova Zelândia; a senhora de mais idade que se sentou ao meu lado apercebeu-se que eu procurei uma caneta na minha mala sem sucesso e muito amavelmente emprestou-me a dela.

Toda uma conversa surgiu a partir daí. Nunca cheguei a saber o nome dela, mas eu contei-lhe porque é que estava naquele estado e pedi desculpa pelo meu fungar constante. Ela ouviu super atentamente a minha história e depois foi a minha vez de ouvir a dela. Eram um casal de ingleses que tinha emigrado para Perth, na Austrália, há vinte anos atrás, e que entretanto tinha atingido a idade da reforma e ocupava o seu tempo a viajar.

Mostrou-me a volta que tinham dado à Austrália no anterior no seu GPS, falou-me da filha e da viagem que iam os dois fazer com casais amigos em caravanas pela ilha Norte. De repente, no meio de tanta conversa, tínhamos aterrado em Christchurch.

Se três horas antes estava no fundo do poço, ninguém me reconheceria quando pus os pés no aeroporto. As paredes dos corredores à saída do avião tinham fotografias de sítios espetaculares da Nova Zelândia e eu comecei a entrar no espírito e a entrar em êxtase.

Por volta da uma da manhã, tinha o meu passaporte carimbado para os próximos 4 meses e meio.



A entrada na Nova Zelândia não é brincadeira. Eles levam mesmo a sério a proibição da entrada de espécies estranhas ao território. Fazem mesmo testes às solas de botas de montanha para ter a certeza que não haverá contaminação com espécies invasoras.

Quando estava na recolha de bagagem passou uma segurança com o cão pelas minhas malas. Standard procedure. Tudo OK.

O meu entusiasmo morreu um pouco quando me lembrei que tinha uma escala de 8h pelas frente. Felizmente o limite de internet do aeroporto era uma treta e estive a falar para Portugal durante a maioria do tempo.

Quem me conhece sabe que odeio correr riscos, especialmente os desnecessários, e deixei logo bem claro ao Leonardo que eu não ia dormir e deixar as malas sozinhas, por isso ele podia dormir.


As primeiras duas horas passaram-se bem. Já as três horas seguintes, que eram o tempo até podemos despachar as malas, teimavam em passar. 

Às 4h30 abriu o terminal doméstico e eu fui passear, ver os cafés e lojas. Aproveitei para comparar preços com os que tinha praticado na Austrália. Em geral mais baixos e o mesmo para a taxa de câmbio (yay!).


Voltei e tentei ver a entrevista que os meus irmãos estavam a dar para a RTP, mas em vão. A conexão à internet não era suficientemente boa.

Mesmo assim houve quem se lembrasse de mim do outro lado do mundo!
Tomei o pequeno almoço, a uma hora de abrir o balcão para o check-in, em desespero.


Às 6h30 fomos despachar as malas e dirigimo-nos para a porta de embarque. Podre de sono, usei a minha mochila como almofada, a minha longchamp como peluche e "adormeci". Sei que não estava a dormir realmente porque quando anunciaram o nosso embarque eu saltei da cadeira, entrei em piloto automático e corri para a porta de embarque. 

Em modo zombie cheguei até ao avião. Desta vez, parte da frota da Air New Zealand. O meu cansaço era tanto que nem aguentei até às instruções de segurança. Mas devia, porque a Air New Zealand, considerada uma das melhores companhias aéreas do mundo é a rainha no que toca a fazer os vídeos de segurança, e eu que por esta altura já dormia que nem uma pedra perdi todo um espetáculo.

Apreciem por favor:





Existem mais com o tema do Senhor dos Anéis mas estes foram os meus favoritos. 

Como em todos os voos, só acordei quando serviram comida. Tenho um sexto sentido que não falha mesmo durante o sono.


Ao fim de hora e meia chegámos a Dunedin.

DUNEDIN.

“The people are Scotch. They stopped here on their way from home to heaven thinking they had arrived.” - Mark Twain about Dunedin


Fomos recebidos pelo condutor do nosso shuttle. Um neozelandês gordinho e impaciente. 

Eu não quis saber da impaciência dele e fui à banquinha que a nossa universidade tinha montada no aeroporto. Uma local super simpática explicou-nos como devíamos proceder nos dias seguintes, deu-nos uma checklist e depois de um briefing muito rápido. Ao fim de 5 minutos cedemos à pressão do nosso condutor e encaminhámo-nos para o parque de estacionamento.

O shuttle estava cheio de estudantes que como nós iam para o escritório dos Uni Flats (alojamento preferido pelos estudantes internacionais, que consiste em casinhas com 3 ou mais estudantes em ruas próximas da faculdade) para receber as chaves.

A viagem ainda durou uns 20 minutos, mas vínhamos à conversa com os nossos colegas (quase todos) americanos.

Chegados ao escritório, pediram-nos que disséssemos o nosso apelido para nos entregarem o envelope com a chave. "Lima". Nada. "Martins de Lima?". Nada. Pausa para pânico. "Guerreiro Martins de Lima???", "There you go!". Alívio.

Mais um briefing sobre como proceder, os documentos a preencher e os eventos dos dias seguintes e voltámos para o shuttle nos levar a cada um à nossa rua.

Dobrámos a esquina, e o condutor anuncia "Leith Street". Era a minha rua, e eu fui literalmente a primeira a ser entregue. Não tínhamos demorado nem 30 segundos e, por isso, dentro do shuttle riram-se todos. Eu saltei borda fora com as minhas duas malas de 20Kg cada e fiz-me ao passeio.


Larguei-as para tentar perceber onde era a nossa porta. Sabia que a minha casa era a B, mas não encontrava a letra em lado nenhum, até que finalmente dei com a porta das traseiras.

Entrei muito reticentemente a arrastar a mala grande, sabia que a minha flatmate estava em casa mas não sabia bem o que esperar.  

Disse "Hello?", mas só à segunda tentativa é que obtive resposta. E foi assim que conheci a Caitlin, a minha kiwi host (no sistema Uni Flats, cada flat = casa tem um anfitrião neozelandês), com quem tinha trocado mensagens antes da minha chegada para esclarecer algumas dúvidas.

Subi até ao meu quarto que estava um pouco despido e oco. Estremeci um pouco e tive de respirar fundo várias vezes. Eram umas 10h da manhã, eu tinha dormido pouco e não estava a conseguir processar que esta seria a minha casa nos próximos meses. Pelo menos com a aparência que tinha inicialmente.

Abri o pack de roupa de cama e fiz a cama. A coisa começou a ganhar forma. Desfiz a minha mala e comecei a pendurar e a arrumar roupa nas gavetas. No final fiquei feliz com o resultado e o meu coração ficou um bocadinho mais aconchegado. 



A Caitlin foi impecável. Disse-lhe que precisava de fazer umas compras básicas de supermercado. Não tinha adaptador para a tomada, shampoo e amaciador, cartão SIM para o telemóvel e não tinha comida de todo.

Juntamente com a melhor amiga dela, a Jordan, metemo-nos no carro dela e fomos às compras. Eu estava morta de cansaço e nem me lembro bem do nome dos sítios onde fui. Mas quando voltei a casa já tinha a lista toda das coisas que me permitiriam sobreviver aos primeiros dias. Adormeci e só acordei à hora de jantar.

Atentando no facto de que cá se janta às 17h30. 

E foi assim o meu primeiro dia por cá. A noite... Fica para outros registos.

19 e 20 Fev 2016

P.S. Haere mai! é Maori (segunda língua oficial do país) para Welcome!

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