sábado, 27 de fevereiro de 2016

GRANDE BARREIRA DE CORAL

"Imagine an animal so tiny that it is almost invisible to the naked eye, yet it forms colonies that are visible from space. From the tiny coral polyp has grown the largest living organism on earth - the Great Barrier Reef."


Acordámos na quarta-feira de manhã (17 de Fev) avisados de que deveríamos estar no Porto Marlin Jetty pelas 7h30. Apesar de ter acordado cedo, distraí-me com o tempo que passei na internet e no fim acabámos todos por nos atrasar. 

Pânico geral quando são 7h27 e estávamos à porta do hostel sem encontrar um táxi que nos levasse até ao porto. Pegámos nas malas e arrancámos a pé. Foram os 10 minutos mais críticos desta viagem toda. Eu não ia perder aquele barco por nada deste mundo e apesar dos trinta graus que já se faziam sentir e dos 40kg que arrastei pelo chão não parei enquanto não pus os pés no cais. 

No cais foi outro drama para descobrir qual era o nosso barco. Existiam dezenas e nenhum com o nome do nosso. Depois de uma pesquisa exaustiva por entre e-mails lá descobri que apesar de termos comprado uma noite a bordo do navio Reef Encounter, deveríamos usar o Reef Experience como transfer

Na verdade chegámos mais do que a tempo. 


A tripulação encarregou-se das nossas malas. Pelas caras de surpresa e de dor devemos ter sido os clientes mais carregados que por ali apareceram nos últimos tempos. Ainda assim, foram impecáveis do início ao fim. 

Subimos para o nível superior do Reef Experience (onde iam os passageiros que tal como nós iam passar uma ou mais noites a bordo do Reef Encounter). Serviram-nos o pequeno almoço: muita fruta e o que eles chamam de muffin de bacon e ovo que é basicamente um hambúrguer de bacon e ovo estrelado só que sem o hambúrguer. 
Eu, que sou uma nojentinha com comida, fui debicando o meu pacote de bolachas para não morrer à fome. 



Durante a viagem, um dos membros da tripulação perguntou ao Leonardo se este era um mergulhador certificado porque tinha comprado esse pacote, e isso foi motivo de gozo e risota até chegarmos ao nosso destino.



Ao fim de uma hora e meia, lá trocamos de barco em alto mar. Com uma ponte a ligar os dois barcos: descalços (por causa da no shoe policy), atravessávamos pelo deck superior enquanto a nossa bagagem era transferida no deck inferior. 

Fomos recebidos com um briefing inicial e em menos de meia hora estávamos a ser chamados para o nosso primeiro mergulho de snorkeling

Um pouco inexperientes no assunto, seguimos o rebanho em busca de um fato, barbatanas e óculos. 

Descemos, e já com os sinais de segurança aprendidos e memorizados saltámos para a água. 
O Pedro foi o primeiro a entrar e gritou logo "Isto é a coisa mais bonita que eu vi na minha vida", a curiosidade fez-me segui-lo logo a seguir. Um mergulho a pés juntos e quando abri os olhos: explosões de cor. Peixes, peixinhos algas e corais por todo o lado com todas as cores do arco-íris e mais algumas. 50 tons de turquesa, amarelo, vermelho... you name it.



Não tem bem descrição e garanto que as fotografias que vou pôr aqui não transmitem um milésimo da beleza do que eu pude ver. 

Sem medo de tubarões, raias, mantas ou alforrecas venenosas comecei a nadar. Se existe sítio no mundo onde eu penso que não me importava de ser comida para peixinhos é definitivamente aqui. Ao menos sei que estaria a alimentar um dos sítios mais bonitos do planeta. 

Já tinha feito snorkeling, caça submarina inclusive, mas senti-me um bocado enferrujada e ainda engoli alguns pirolitos porque o mar estava picado pelo vento e cheio de ondas. Não posso dizer que não valeram a pena.



Ao fim de 45 minutos, ouvimos o apito que significava que era tempo de regressar ao barco. Depois do primeiro mergulho estávamos só assoberbados. De tal forma que nos distraímos com o tempo que tínhamos para nos secar e preparar para o almoço, pois quando chegámos as mesas estavam todas preenchidas e por isso tivemos de nos separar.



Eu e a Madalena ficámos na mesa da terceira idade. Três velhinhos americanos, e uma acompanhante de luxo. Não, não estou a brincar. Eram dois casais em que um deles era um senhor de 70 anos e a acompanhante teria uns 30, um par de maminhas falsas e muito botox naquela fronha. 

Esforçámo-nos por manter conversa. Falou-se um pouco de Lisboa e das origens de cada um mas depois instalou-se um silêncio algo constrangedor. Na mesa ao lado o Pedro não se calava e falava da economia portuguesa com uma família australiana, numa mesa mais ao fundo, o Leonardo aprendia os básicos do mandarim.

(Não sei se posso dizer que almocei de facto. Era mexicano e tinha guacamoles e outros quês que eu não me atrevi a tocar. Para não ir para a água de estômago vazio comi umas 5 maçãs e acabei o meu pacote de bolachas).

A seguir ao almoço, o Nick, nosso instrutor de mergulho, deu-nos um briefing de basicamente como não nos matarmos enquanto fazemos mergulho com botija.

Eram três regras muito básicas, mas a chinesa que estava sentada no sofá à nossa frente, parecia estar a fazer um grande esforço para as memorizar:
1. Respirar;
2. Descomprimir os ouvidos;
3. Seguir o instrutor.


Nick, o nosso instrutor

Descobrimos toda uma panóplia de sinais para comunicar debaixo de água, dado que falar não era uma alternativa. Inclusive, como avisar que estávamos a ver o nemo, uma tartaruga, uma alforreca ou um tubarão. Sim, existiam tubarões e nós vimos vários até.

Além disso ficámos a saber que afinal o Leo não tinha sido o único a auto-proclamar-se como mergulhador certificado. Todos tínhamos comprado o pacote errado. O Nick foi impecável e disse que depois de mergulharmos logo trataríamos disso.

Fatos, pesos, barbatanas, óculos e botijas prontos e lá fomos nós para o fundo do mar. Nunca abaixo dos 12 metros de profundidade começámos a nossa primeira aventura. E foi I N C R Í V E L. No primeiro mergulho vimos logo uma tartaruga (que passou de imediato a ser o meu animal aquático preferido). Comia e andava de um lado para o outro. 




As minhas favoritas 😊

E andámos por lá, de coral em coral. Peixes de mil cores: grandes, pequenos, uns mais elegantes outros mais gordinhos. Se olhássemos para cima parecia mesmo que estávamos no oceanário, só que em águas abertas, e lamento informar, mas é muito, mas mesmo muito, mais bonito, vivo e colorido.


Esta foi a nossa primeira fotografia de família debaixo de água e há uma longa história de como não a comprámos e a conseguimos na mesma. Para verem fotografias com a qualidade que a Grande Barreira de Coral merece, sugiro que visitem a página do nosso instrutor Nick, aqui.

Ao fim de 35 minutos, apesar de a vontade ser nula, tivemos de regressar à superfície. Sem fôlego, não por falta de ar nas botijas, mas porque o que tínhamos visto era mesmo de cortar a respiração (e também porque subir a plataforma do barco com o peso da botija era incrivelmente difícil).

Ainda tínhamos algum tempo porque ia outro grupo mergulhar. Eu e a Madalena largámos o material o mais rápido que conseguimos e voltámos para dentro de água. Não queríamos sair de lá por nada deste mundo. E andámos por lá a fazer snorkeling enquanto nos deixaram. 

Pelas 17h já estávamos todos a bordo. Subimos os 4 para o deck superior e apanhámos um pouco de sol. Sempre besuntados em loção 50+. 



Tivemos um episódio engraçado quando o Pedro tentou exemplificar o engate que supostamente teria ocorrido no deck de baixo. A brincadeira custou-lhe os óculos de sol que voaram borda fora. O Nick sempre muito prestável ainda pôs a botija e tentou um resgate mas em vão. Rimos o resto da viagem toda à custa disto.

Às 18h era hora de jantar. Desta vez conseguimos uma mesa para os quatro mas o prato mais uma vez deixou-me de estômago vazio. Era porco com arroz. Valeu-me o arroz e a expectativa pela sobremesa que só viria depois do mergulho nortuno.

O mergulho noturno foi uma questão que nos deixou muito divididos. A confusão nos pacotes comprados acabou por nos custar mais 135AUD a cada um. E o Pedro já tinha lançado uns óculos Ray Ban borda fora.

O Nick que se juntou a nós para jantar quando já todos tínhamos terminado a refeição, disse que valia a pena. Se via outro tipo de peixes maiores, especialmente tubarões, mas percebi que nos doesse na carteira.

Contou-nos a história de vida dele. Como o plano de se mudar dois meses para Austrália acabou numa volta de carro pelo país que durou um ano, seguida de outro ano na Tailândia onde se tornou instrutor de mergulho certificado. Estava a bordo do Reef Encounter há 6 meses e tencionava demitir-se dali a uma semana. E fê-lo. Com planos de viajar mais um pouco pela Austrália, regressar à Tailândia durante o inverno (verão português; onde disse que o deveríamos visitar) e rumar para o México no final do ano. Inveja nível máximo do Nick e dos seus 24 anos de aventuras pelo mundo. 

Às 19h já tínhamos decidido que o mergulho noturno teria de ficar para uma próxima. Mais uma vez no deck superior, apreciámos o sol a pôr-se no horizonte onde se via terra.



Aguentei mais um pouco até que escurecesse pois queria ver o céu estrelado mas além de morta de fome, estava podre de sono devido ao dia preenchido.

Descemos para comer a sobremesa. Decepção das decepções: era só gelado. Mas acho que nunca comi tanto gelado na minha vida. Eu não ia para a cama com fome.



Deitei-me e não passaram 5 minutos até que adormecesse.

No dia seguinte às 6h00 batiam à nossa porta para o morning call, dali a meia hora deveríamos estar a entrar na água pois era a melhor altura para observar o recife. 


Nascer-do-sol no Pacífico (sem filtros)
Eu e a Madalena comemos cereais a seco e vestimos os nossos fatos-de-banho. Hoje não usaríamos fato. Primeiro porque a temperatura da água era de 30ºC, em segundo lugar o Nick no dia anterior tinha-nos dito que ele próprio tinha tirado o fato por estar imenso calor, não terem sido avistadas alforrecas e não ser realmente necessário e por último, queríamos trabalhar um pouco o nosso bronze.


O segundo pequeno-almoço
Botijas prontas e lá fomos nós. Não vou estar para aqui a relatar mergulhos, porque na realidade as palavras nunca lhes farão justiça. Nem mesmo as fotografias fazem pois as nossas GoPros não tinham lanterna e os corais super coloridos acabaram por ficar registados em tons esverdeados.



Mergulhámos às 6h30 e 8h30. Às 10h30 o barco rumou a outra zona da barreira, onde mergulhámos a última vez com botija às 11h. Às 13h deixaram-nos fazer snorkeling.

Ainda que não correspondam de todo à realidade que se vivia lá em baixo ficam algumas imagens:


É o Nemo!!!
Tartaruga a passar pelo recife


Este segundo dia, soube-nos a um evento de networking na Nova SBE. Não tenho a certeza se por sermos os mais jovens a bordo, ou os de origem mais incomum, toda a gente falou connosco.

Almoçámos caril (yay!) acompanhados pelo Consûl Australiano do Afeganistão. Conheci a Jen, canadiana e casada de fresco com um australiano, que se tinha mudado para a Austrália para continuar a estudar enfermagem e que me disse que dado o meu interesse de longa data por medicina, deveria considerar estudar na Austrália que enfrenta uma grande falta de médicos. Deu-me o seu nome, contacto e ainda o nome da faculdade onde um dia ainda posso vir a cometer uma loucura.




Ainda no barco, conhecemos o Michael, que era responsável pela contagem dos mergulhadores à partida e chegada da água. O Michael surpreendeu-nos quando disse que dali a duas semanas rumaria a Portugal para visitar Lisboa. Mais surpreendente ainda é que esta não seria a única visita do Michael a Portugal este ano. Em Agosto regressará para ir ao Festival Boom em Idanha-à-Nova.
No regresso recebemos uma folha com todos os locais a visitar na cidade e entregámos-lhe uma semelhante sobre Lisboa.

Foi mesmo giro, partilhar tantas histórias de vida e dar a conhecer as nossas. São estes momentos que nos permitem garantir que viajar é de facto das experiências mais enriquecedoras na vida.




Já no porto, em Cairns despedimo-nos da tripulação e rumámos tristemente de volta ao hostel que poderia ter saído de um filme sobre El Chapo.




Como em equipa que ganha não se mexe, reclamámos os nossos cupões na recepção do hostel e voltámos a jantar no The Pier Bar. Voltámos a visitar o casino, infelizmente (e sobre isto mais não digo).

Se no dia anterior estávamos certos que esta noite seria a loucura e que iríamos, o espirito neste dia não podia ser mais oposto. Estávamos mortos de cansaço, transpirados por causa do ar quente e desanimados pela ida ao casino. 




Fomos espreitar a discoteca/hostel (sim, o hostel em si era uma discoteca) em frente, o Gilligans. A entrada era extremamente barata mas nós simplesmente não estávamos no espírito.



Eu insatisfeita com o jantar, apesar deste ter sido até melhor que na primeira visita (incluiu um brownie de chocolate), comi uma fatia de pizza na pizzeria à saída da discoteca.


Voltámos para o hostel, tomei banho. E adormeci na que seria a minha última noite em solo australiano.

17 e 18 Fev 2016

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