segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Haere mai! - NOVA ZELÂNDIA (finalmente)

Kia ora!
(Maori para greetings!)

Finalmente escrevo a partir da terra dos Kiwis (não o fruto, mas sim o animal símbolo desta nação perdida num canto do Pacífico), a 19 472Km de casa

Chegar aqui não foi fácil. Se a minha família e amigos acham que eu chorei muito em Lisboa, deviam ter visto a minha figura no aeroporto de Sydney. 

Custou-me mesmo horrores deixar a Madalena (e o Pedro, vá...).


O taxista foi super impecável e paciente. "Departures are always hard!" disse ao volante, e eu atrás concordava entre rios de lágrimas, baba e ranho.

Bati mesmo no fundo. Apercebi-me de que era o fim da brincadeira; altura de virar mulherzinha e vir fazer aquilo a que me tinha proposto fazer.

Já no aeroporto, o Leo perguntava-me de dois em dois minutos se eu estava mesmo bem. Acho que ele estava com medo que me desse alguma coisinha má.

Arrastei-me pelo terminal, desde a zona dos seguranças à porta de embarque. Chorei mais um pouco e embarquei.

No meu lugar à janela continuei no meu pranto, o Leonardo continuava a olhar para mim desesperado sem saber o que fazer. As pessoas iam entrando e os dois lugares ao meu lado continuavam vazios. No meio daquela solidão estúpida que eu estava a sentir, fiquei feliz porque pensei que ao menos poderia esticar-me e dormir para parar de pensar em tudo o que me ocorria.



Uns dois minutos antes de o embarque terminar entram 5 pessoas no avião e os lugares ao meu lado foram ocupados por um casal de terceira idade. Maravilha.

Todo um cenário muito dramático para acompanhar o meu estado de espírito

Neste primeiro voo (sim, ainda foram precisos dois voos a partir de Sydney para cá chegar) vim na Virgin Airlines. Eu achava que era uma companhia low cost, sinceramente nem me informei muito bem e continuo sem saber mas low cost ou não, deu MIL a ZERO à Emirates. Muito mais espaço entre bancos, bancos de pele e confortáveis e excelente entretenimento e comida a bordo.

Ao fim de meia hora de viagem estava a desesperar. Não tinha nada com que me entreter, ou se tinha não me apetecia. Não havia ecrã tátil desta vez e a minha cabeça continuava a mil à hora. 

Do nada, as hospedeiras passam com um carrinho e começam a distribuir tablets Samsung a passageiros que estavam numa certa lista. Sempre muito optimista parti logo do pressuposto de que o meu nome nunca na vida constaria em tal papel. Eu tinha comprado o bilhete regular pela Air New Zealand e estava a viajar numa companhia parceira por isso não me estava a ver merecedora de tal privilégio.

Até que "Miss Joana Lima would you like your tablet for flight entertainment?" "Yes, pleaaaase!". O entretenimento era feito via Wi-Fi, e havia toda uma seleção de filmes (havia uma categoria só para o Leonardo Di Caprio!!!) e música (com muito destaque para bandas australianas).


Eu que adoro estes gadgets limpei as lágrimas e comecei a brincar até servirem o jantar. Um bocadinho antes disso foram distribuídos os questionários de imigração para a Nova Zelândia; a senhora de mais idade que se sentou ao meu lado apercebeu-se que eu procurei uma caneta na minha mala sem sucesso e muito amavelmente emprestou-me a dela.

Toda uma conversa surgiu a partir daí. Nunca cheguei a saber o nome dela, mas eu contei-lhe porque é que estava naquele estado e pedi desculpa pelo meu fungar constante. Ela ouviu super atentamente a minha história e depois foi a minha vez de ouvir a dela. Eram um casal de ingleses que tinha emigrado para Perth, na Austrália, há vinte anos atrás, e que entretanto tinha atingido a idade da reforma e ocupava o seu tempo a viajar.

Mostrou-me a volta que tinham dado à Austrália no anterior no seu GPS, falou-me da filha e da viagem que iam os dois fazer com casais amigos em caravanas pela ilha Norte. De repente, no meio de tanta conversa, tínhamos aterrado em Christchurch.

Se três horas antes estava no fundo do poço, ninguém me reconheceria quando pus os pés no aeroporto. As paredes dos corredores à saída do avião tinham fotografias de sítios espetaculares da Nova Zelândia e eu comecei a entrar no espírito e a entrar em êxtase.

Por volta da uma da manhã, tinha o meu passaporte carimbado para os próximos 4 meses e meio.



A entrada na Nova Zelândia não é brincadeira. Eles levam mesmo a sério a proibição da entrada de espécies estranhas ao território. Fazem mesmo testes às solas de botas de montanha para ter a certeza que não haverá contaminação com espécies invasoras.

Quando estava na recolha de bagagem passou uma segurança com o cão pelas minhas malas. Standard procedure. Tudo OK.

O meu entusiasmo morreu um pouco quando me lembrei que tinha uma escala de 8h pelas frente. Felizmente o limite de internet do aeroporto era uma treta e estive a falar para Portugal durante a maioria do tempo.

Quem me conhece sabe que odeio correr riscos, especialmente os desnecessários, e deixei logo bem claro ao Leonardo que eu não ia dormir e deixar as malas sozinhas, por isso ele podia dormir.


As primeiras duas horas passaram-se bem. Já as três horas seguintes, que eram o tempo até podemos despachar as malas, teimavam em passar. 

Às 4h30 abriu o terminal doméstico e eu fui passear, ver os cafés e lojas. Aproveitei para comparar preços com os que tinha praticado na Austrália. Em geral mais baixos e o mesmo para a taxa de câmbio (yay!).


Voltei e tentei ver a entrevista que os meus irmãos estavam a dar para a RTP, mas em vão. A conexão à internet não era suficientemente boa.

Mesmo assim houve quem se lembrasse de mim do outro lado do mundo!
Tomei o pequeno almoço, a uma hora de abrir o balcão para o check-in, em desespero.


Às 6h30 fomos despachar as malas e dirigimo-nos para a porta de embarque. Podre de sono, usei a minha mochila como almofada, a minha longchamp como peluche e "adormeci". Sei que não estava a dormir realmente porque quando anunciaram o nosso embarque eu saltei da cadeira, entrei em piloto automático e corri para a porta de embarque. 

Em modo zombie cheguei até ao avião. Desta vez, parte da frota da Air New Zealand. O meu cansaço era tanto que nem aguentei até às instruções de segurança. Mas devia, porque a Air New Zealand, considerada uma das melhores companhias aéreas do mundo é a rainha no que toca a fazer os vídeos de segurança, e eu que por esta altura já dormia que nem uma pedra perdi todo um espetáculo.

Apreciem por favor:





Existem mais com o tema do Senhor dos Anéis mas estes foram os meus favoritos. 

Como em todos os voos, só acordei quando serviram comida. Tenho um sexto sentido que não falha mesmo durante o sono.


Ao fim de hora e meia chegámos a Dunedin.

DUNEDIN.

“The people are Scotch. They stopped here on their way from home to heaven thinking they had arrived.” - Mark Twain about Dunedin


Fomos recebidos pelo condutor do nosso shuttle. Um neozelandês gordinho e impaciente. 

Eu não quis saber da impaciência dele e fui à banquinha que a nossa universidade tinha montada no aeroporto. Uma local super simpática explicou-nos como devíamos proceder nos dias seguintes, deu-nos uma checklist e depois de um briefing muito rápido. Ao fim de 5 minutos cedemos à pressão do nosso condutor e encaminhámo-nos para o parque de estacionamento.

O shuttle estava cheio de estudantes que como nós iam para o escritório dos Uni Flats (alojamento preferido pelos estudantes internacionais, que consiste em casinhas com 3 ou mais estudantes em ruas próximas da faculdade) para receber as chaves.

A viagem ainda durou uns 20 minutos, mas vínhamos à conversa com os nossos colegas (quase todos) americanos.

Chegados ao escritório, pediram-nos que disséssemos o nosso apelido para nos entregarem o envelope com a chave. "Lima". Nada. "Martins de Lima?". Nada. Pausa para pânico. "Guerreiro Martins de Lima???", "There you go!". Alívio.

Mais um briefing sobre como proceder, os documentos a preencher e os eventos dos dias seguintes e voltámos para o shuttle nos levar a cada um à nossa rua.

Dobrámos a esquina, e o condutor anuncia "Leith Street". Era a minha rua, e eu fui literalmente a primeira a ser entregue. Não tínhamos demorado nem 30 segundos e, por isso, dentro do shuttle riram-se todos. Eu saltei borda fora com as minhas duas malas de 20Kg cada e fiz-me ao passeio.


Larguei-as para tentar perceber onde era a nossa porta. Sabia que a minha casa era a B, mas não encontrava a letra em lado nenhum, até que finalmente dei com a porta das traseiras.

Entrei muito reticentemente a arrastar a mala grande, sabia que a minha flatmate estava em casa mas não sabia bem o que esperar.  

Disse "Hello?", mas só à segunda tentativa é que obtive resposta. E foi assim que conheci a Caitlin, a minha kiwi host (no sistema Uni Flats, cada flat = casa tem um anfitrião neozelandês), com quem tinha trocado mensagens antes da minha chegada para esclarecer algumas dúvidas.

Subi até ao meu quarto que estava um pouco despido e oco. Estremeci um pouco e tive de respirar fundo várias vezes. Eram umas 10h da manhã, eu tinha dormido pouco e não estava a conseguir processar que esta seria a minha casa nos próximos meses. Pelo menos com a aparência que tinha inicialmente.

Abri o pack de roupa de cama e fiz a cama. A coisa começou a ganhar forma. Desfiz a minha mala e comecei a pendurar e a arrumar roupa nas gavetas. No final fiquei feliz com o resultado e o meu coração ficou um bocadinho mais aconchegado. 



A Caitlin foi impecável. Disse-lhe que precisava de fazer umas compras básicas de supermercado. Não tinha adaptador para a tomada, shampoo e amaciador, cartão SIM para o telemóvel e não tinha comida de todo.

Juntamente com a melhor amiga dela, a Jordan, metemo-nos no carro dela e fomos às compras. Eu estava morta de cansaço e nem me lembro bem do nome dos sítios onde fui. Mas quando voltei a casa já tinha a lista toda das coisas que me permitiriam sobreviver aos primeiros dias. Adormeci e só acordei à hora de jantar.

Atentando no facto de que cá se janta às 17h30. 

E foi assim o meu primeiro dia por cá. A noite... Fica para outros registos.

19 e 20 Fev 2016

P.S. Haere mai! é Maori (segunda língua oficial do país) para Welcome!

sábado, 27 de fevereiro de 2016

GRANDE BARREIRA DE CORAL

"Imagine an animal so tiny that it is almost invisible to the naked eye, yet it forms colonies that are visible from space. From the tiny coral polyp has grown the largest living organism on earth - the Great Barrier Reef."


Acordámos na quarta-feira de manhã (17 de Fev) avisados de que deveríamos estar no Porto Marlin Jetty pelas 7h30. Apesar de ter acordado cedo, distraí-me com o tempo que passei na internet e no fim acabámos todos por nos atrasar. 

Pânico geral quando são 7h27 e estávamos à porta do hostel sem encontrar um táxi que nos levasse até ao porto. Pegámos nas malas e arrancámos a pé. Foram os 10 minutos mais críticos desta viagem toda. Eu não ia perder aquele barco por nada deste mundo e apesar dos trinta graus que já se faziam sentir e dos 40kg que arrastei pelo chão não parei enquanto não pus os pés no cais. 

No cais foi outro drama para descobrir qual era o nosso barco. Existiam dezenas e nenhum com o nome do nosso. Depois de uma pesquisa exaustiva por entre e-mails lá descobri que apesar de termos comprado uma noite a bordo do navio Reef Encounter, deveríamos usar o Reef Experience como transfer

Na verdade chegámos mais do que a tempo. 


A tripulação encarregou-se das nossas malas. Pelas caras de surpresa e de dor devemos ter sido os clientes mais carregados que por ali apareceram nos últimos tempos. Ainda assim, foram impecáveis do início ao fim. 

Subimos para o nível superior do Reef Experience (onde iam os passageiros que tal como nós iam passar uma ou mais noites a bordo do Reef Encounter). Serviram-nos o pequeno almoço: muita fruta e o que eles chamam de muffin de bacon e ovo que é basicamente um hambúrguer de bacon e ovo estrelado só que sem o hambúrguer. 
Eu, que sou uma nojentinha com comida, fui debicando o meu pacote de bolachas para não morrer à fome. 



Durante a viagem, um dos membros da tripulação perguntou ao Leonardo se este era um mergulhador certificado porque tinha comprado esse pacote, e isso foi motivo de gozo e risota até chegarmos ao nosso destino.



Ao fim de uma hora e meia, lá trocamos de barco em alto mar. Com uma ponte a ligar os dois barcos: descalços (por causa da no shoe policy), atravessávamos pelo deck superior enquanto a nossa bagagem era transferida no deck inferior. 

Fomos recebidos com um briefing inicial e em menos de meia hora estávamos a ser chamados para o nosso primeiro mergulho de snorkeling

Um pouco inexperientes no assunto, seguimos o rebanho em busca de um fato, barbatanas e óculos. 

Descemos, e já com os sinais de segurança aprendidos e memorizados saltámos para a água. 
O Pedro foi o primeiro a entrar e gritou logo "Isto é a coisa mais bonita que eu vi na minha vida", a curiosidade fez-me segui-lo logo a seguir. Um mergulho a pés juntos e quando abri os olhos: explosões de cor. Peixes, peixinhos algas e corais por todo o lado com todas as cores do arco-íris e mais algumas. 50 tons de turquesa, amarelo, vermelho... you name it.



Não tem bem descrição e garanto que as fotografias que vou pôr aqui não transmitem um milésimo da beleza do que eu pude ver. 

Sem medo de tubarões, raias, mantas ou alforrecas venenosas comecei a nadar. Se existe sítio no mundo onde eu penso que não me importava de ser comida para peixinhos é definitivamente aqui. Ao menos sei que estaria a alimentar um dos sítios mais bonitos do planeta. 

Já tinha feito snorkeling, caça submarina inclusive, mas senti-me um bocado enferrujada e ainda engoli alguns pirolitos porque o mar estava picado pelo vento e cheio de ondas. Não posso dizer que não valeram a pena.



Ao fim de 45 minutos, ouvimos o apito que significava que era tempo de regressar ao barco. Depois do primeiro mergulho estávamos só assoberbados. De tal forma que nos distraímos com o tempo que tínhamos para nos secar e preparar para o almoço, pois quando chegámos as mesas estavam todas preenchidas e por isso tivemos de nos separar.



Eu e a Madalena ficámos na mesa da terceira idade. Três velhinhos americanos, e uma acompanhante de luxo. Não, não estou a brincar. Eram dois casais em que um deles era um senhor de 70 anos e a acompanhante teria uns 30, um par de maminhas falsas e muito botox naquela fronha. 

Esforçámo-nos por manter conversa. Falou-se um pouco de Lisboa e das origens de cada um mas depois instalou-se um silêncio algo constrangedor. Na mesa ao lado o Pedro não se calava e falava da economia portuguesa com uma família australiana, numa mesa mais ao fundo, o Leonardo aprendia os básicos do mandarim.

(Não sei se posso dizer que almocei de facto. Era mexicano e tinha guacamoles e outros quês que eu não me atrevi a tocar. Para não ir para a água de estômago vazio comi umas 5 maçãs e acabei o meu pacote de bolachas).

A seguir ao almoço, o Nick, nosso instrutor de mergulho, deu-nos um briefing de basicamente como não nos matarmos enquanto fazemos mergulho com botija.

Eram três regras muito básicas, mas a chinesa que estava sentada no sofá à nossa frente, parecia estar a fazer um grande esforço para as memorizar:
1. Respirar;
2. Descomprimir os ouvidos;
3. Seguir o instrutor.


Nick, o nosso instrutor

Descobrimos toda uma panóplia de sinais para comunicar debaixo de água, dado que falar não era uma alternativa. Inclusive, como avisar que estávamos a ver o nemo, uma tartaruga, uma alforreca ou um tubarão. Sim, existiam tubarões e nós vimos vários até.

Além disso ficámos a saber que afinal o Leo não tinha sido o único a auto-proclamar-se como mergulhador certificado. Todos tínhamos comprado o pacote errado. O Nick foi impecável e disse que depois de mergulharmos logo trataríamos disso.

Fatos, pesos, barbatanas, óculos e botijas prontos e lá fomos nós para o fundo do mar. Nunca abaixo dos 12 metros de profundidade começámos a nossa primeira aventura. E foi I N C R Í V E L. No primeiro mergulho vimos logo uma tartaruga (que passou de imediato a ser o meu animal aquático preferido). Comia e andava de um lado para o outro. 




As minhas favoritas 😊

E andámos por lá, de coral em coral. Peixes de mil cores: grandes, pequenos, uns mais elegantes outros mais gordinhos. Se olhássemos para cima parecia mesmo que estávamos no oceanário, só que em águas abertas, e lamento informar, mas é muito, mas mesmo muito, mais bonito, vivo e colorido.


Esta foi a nossa primeira fotografia de família debaixo de água e há uma longa história de como não a comprámos e a conseguimos na mesma. Para verem fotografias com a qualidade que a Grande Barreira de Coral merece, sugiro que visitem a página do nosso instrutor Nick, aqui.

Ao fim de 35 minutos, apesar de a vontade ser nula, tivemos de regressar à superfície. Sem fôlego, não por falta de ar nas botijas, mas porque o que tínhamos visto era mesmo de cortar a respiração (e também porque subir a plataforma do barco com o peso da botija era incrivelmente difícil).

Ainda tínhamos algum tempo porque ia outro grupo mergulhar. Eu e a Madalena largámos o material o mais rápido que conseguimos e voltámos para dentro de água. Não queríamos sair de lá por nada deste mundo. E andámos por lá a fazer snorkeling enquanto nos deixaram. 

Pelas 17h já estávamos todos a bordo. Subimos os 4 para o deck superior e apanhámos um pouco de sol. Sempre besuntados em loção 50+. 



Tivemos um episódio engraçado quando o Pedro tentou exemplificar o engate que supostamente teria ocorrido no deck de baixo. A brincadeira custou-lhe os óculos de sol que voaram borda fora. O Nick sempre muito prestável ainda pôs a botija e tentou um resgate mas em vão. Rimos o resto da viagem toda à custa disto.

Às 18h era hora de jantar. Desta vez conseguimos uma mesa para os quatro mas o prato mais uma vez deixou-me de estômago vazio. Era porco com arroz. Valeu-me o arroz e a expectativa pela sobremesa que só viria depois do mergulho nortuno.

O mergulho noturno foi uma questão que nos deixou muito divididos. A confusão nos pacotes comprados acabou por nos custar mais 135AUD a cada um. E o Pedro já tinha lançado uns óculos Ray Ban borda fora.

O Nick que se juntou a nós para jantar quando já todos tínhamos terminado a refeição, disse que valia a pena. Se via outro tipo de peixes maiores, especialmente tubarões, mas percebi que nos doesse na carteira.

Contou-nos a história de vida dele. Como o plano de se mudar dois meses para Austrália acabou numa volta de carro pelo país que durou um ano, seguida de outro ano na Tailândia onde se tornou instrutor de mergulho certificado. Estava a bordo do Reef Encounter há 6 meses e tencionava demitir-se dali a uma semana. E fê-lo. Com planos de viajar mais um pouco pela Austrália, regressar à Tailândia durante o inverno (verão português; onde disse que o deveríamos visitar) e rumar para o México no final do ano. Inveja nível máximo do Nick e dos seus 24 anos de aventuras pelo mundo. 

Às 19h já tínhamos decidido que o mergulho noturno teria de ficar para uma próxima. Mais uma vez no deck superior, apreciámos o sol a pôr-se no horizonte onde se via terra.



Aguentei mais um pouco até que escurecesse pois queria ver o céu estrelado mas além de morta de fome, estava podre de sono devido ao dia preenchido.

Descemos para comer a sobremesa. Decepção das decepções: era só gelado. Mas acho que nunca comi tanto gelado na minha vida. Eu não ia para a cama com fome.



Deitei-me e não passaram 5 minutos até que adormecesse.

No dia seguinte às 6h00 batiam à nossa porta para o morning call, dali a meia hora deveríamos estar a entrar na água pois era a melhor altura para observar o recife. 


Nascer-do-sol no Pacífico (sem filtros)
Eu e a Madalena comemos cereais a seco e vestimos os nossos fatos-de-banho. Hoje não usaríamos fato. Primeiro porque a temperatura da água era de 30ºC, em segundo lugar o Nick no dia anterior tinha-nos dito que ele próprio tinha tirado o fato por estar imenso calor, não terem sido avistadas alforrecas e não ser realmente necessário e por último, queríamos trabalhar um pouco o nosso bronze.


O segundo pequeno-almoço
Botijas prontas e lá fomos nós. Não vou estar para aqui a relatar mergulhos, porque na realidade as palavras nunca lhes farão justiça. Nem mesmo as fotografias fazem pois as nossas GoPros não tinham lanterna e os corais super coloridos acabaram por ficar registados em tons esverdeados.



Mergulhámos às 6h30 e 8h30. Às 10h30 o barco rumou a outra zona da barreira, onde mergulhámos a última vez com botija às 11h. Às 13h deixaram-nos fazer snorkeling.

Ainda que não correspondam de todo à realidade que se vivia lá em baixo ficam algumas imagens:


É o Nemo!!!
Tartaruga a passar pelo recife


Este segundo dia, soube-nos a um evento de networking na Nova SBE. Não tenho a certeza se por sermos os mais jovens a bordo, ou os de origem mais incomum, toda a gente falou connosco.

Almoçámos caril (yay!) acompanhados pelo Consûl Australiano do Afeganistão. Conheci a Jen, canadiana e casada de fresco com um australiano, que se tinha mudado para a Austrália para continuar a estudar enfermagem e que me disse que dado o meu interesse de longa data por medicina, deveria considerar estudar na Austrália que enfrenta uma grande falta de médicos. Deu-me o seu nome, contacto e ainda o nome da faculdade onde um dia ainda posso vir a cometer uma loucura.




Ainda no barco, conhecemos o Michael, que era responsável pela contagem dos mergulhadores à partida e chegada da água. O Michael surpreendeu-nos quando disse que dali a duas semanas rumaria a Portugal para visitar Lisboa. Mais surpreendente ainda é que esta não seria a única visita do Michael a Portugal este ano. Em Agosto regressará para ir ao Festival Boom em Idanha-à-Nova.
No regresso recebemos uma folha com todos os locais a visitar na cidade e entregámos-lhe uma semelhante sobre Lisboa.

Foi mesmo giro, partilhar tantas histórias de vida e dar a conhecer as nossas. São estes momentos que nos permitem garantir que viajar é de facto das experiências mais enriquecedoras na vida.




Já no porto, em Cairns despedimo-nos da tripulação e rumámos tristemente de volta ao hostel que poderia ter saído de um filme sobre El Chapo.




Como em equipa que ganha não se mexe, reclamámos os nossos cupões na recepção do hostel e voltámos a jantar no The Pier Bar. Voltámos a visitar o casino, infelizmente (e sobre isto mais não digo).

Se no dia anterior estávamos certos que esta noite seria a loucura e que iríamos, o espirito neste dia não podia ser mais oposto. Estávamos mortos de cansaço, transpirados por causa do ar quente e desanimados pela ida ao casino. 




Fomos espreitar a discoteca/hostel (sim, o hostel em si era uma discoteca) em frente, o Gilligans. A entrada era extremamente barata mas nós simplesmente não estávamos no espírito.



Eu insatisfeita com o jantar, apesar deste ter sido até melhor que na primeira visita (incluiu um brownie de chocolate), comi uma fatia de pizza na pizzeria à saída da discoteca.


Voltámos para o hostel, tomei banho. E adormeci na que seria a minha última noite em solo australiano.

17 e 18 Fev 2016

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CAIRNS


The gateway to Queensland’s tropical north, Cairns is a stylish city, which is also renowned for its relaxed, tropical climate and laid back ambience.

Ainda que não tivesse de madrugar, acabei mais uma vez por acordar bastante cedo. Fiz o que faço sempre, li mensagens de casa, pus-me a par de todas as redes sociais e escrevi durante um bocado.

O nosso voo era só ao meio dia e meia por isso estávamos bastante descontraídos com o tempo. 

Não consegui inovar no pequeno almoço que voltei a tomar no McDonald's do outro lado da rua: café expresso e scone simples. 

Quando voltei, tratei de verificar que a minha mala não excedia os 30Kg que tinha comprado. Ia viajar na Tiger Air, uma companhia aérea low cost australiana, que, como qualquer outra companhia low cost, cobra cada serviço extra. 

Todos prontos, dirigimo-nos até à recepção para chamar um táxi. Desta vez não negociámos preço à partida e deixamos que o indiano de turbante na cabeça que nos veio buscar, ligasse o contador. O número aumentava ao ritmo do ponteiro dos segundos de um relógio e acabamos por pagar mais 10AUD do que na vinda, 60AUD ao todo.

O Aeroporto doméstico de Brisbane é de pequenas dimensões e por isso encontrámos os nossos balcões do check-in (vazios) em menos de 2 minutos. Fui a primeira a ser atendida. Mala na balança e o ecrã marcava exatamente 30,0Kg. A hospedeira sorriu e disse "You did well on that one.", eu retribuí e suspirei de alívio. 

A Madalena não teve a mesma sorte e teve de distribuir peso pela minha mala de mão e a de porão do Pedro e do Leo.

Seguimos para os seguranças. Procedimento habitual mas eu e o Pedro fomos parados numa revisão aleatória. 

Íamos passar a hora de almoço a bordo e sem refeição por isso tratámos de nos alimentar pelo nosso terminal. Eu joguei pelo seguro e pedi uma sanduíche no Subway

Quando terminámos dirigimo-nos todos para a porta de embarque e enfrentámos um filme de terror quando a hospedeira nos disse que só podíamos transportar duas malas connosco e que o limite de peso das mesmas era conjuntamente 7kg. Todos tínhamos mais de 15kg connosco, o Pedro era o recordista com 19kg. 


Fizemos uma ginástica gigante e com três casacos em cima, de sacos de biquínis nas mãos, livros e carteiras debaixo dos braços, conseguimos todos reduzir o nosso total para o máximo permitido que eram 12kg. Ainda assim não nos livrámos de pagar este excesso de bagagem. 46AUD a cada um. 

Os restantes passageiros na fila de espera sorriam com um ar de pena para nós. Mas mantivemo-nos firmes e não deixamos nada para trás além de uma pasta de dentes e um baralho de cartas. 


A bordo, uma família indiana pediu ao Pedro para trocar de lugar e ficar connosco para que eles também pudessem ficar juntos. 

Para sorte ou azar dele, a cadeira do indiano no lugar em frente ao dele estava avariada e reclinava-se demasiado, o que o deixava sem espaço para abrir sequer o tabuleiro. A comissária de bordo assim que reparou no que se sucedia mudou-o logo de lugar e mais uma vez o Pedro, que já todos percebemos que nasceu com o rabinho virado para a lua, foi parar a um lugar na saída de emergência com espaço extra para as pernas. 

A Madalena é que saiu a ganhar. Ficou com dois lugares para dormir só para ela e aproveitou toda a confusão de camisolas que o Pedro tinha tido de trazer na mão como almofada para dormir. 

Eu já sei que sorte em lugares de avião não é comigo. 

Ainda assim, neste voo não apostei mal. Fui sempre a espreitar à janela e consegui uma vista aérea para a barreira de coral excelente. 


Em menos de duas horas e meia de voo aterrámos em Cairns


Cairns é a cidade preferida para os visitantes da barreira de coral, com um pequeno porto marítimo de onde partem barcos diariamente para os vários recifes. O nosso barco partiría no dia seguinte.

No aeroporto arranjámos um shuttle super barato (10AUD cada) e comprámos logo a ida e o regresso para o hostel.


O hostel em que pernoitamos à chegada e na noite pós-barco foi o mais económico de todos (Corona Backpackers). 10€(=16AUD) por noite por pessoa, num quarto misto para 4 pessoas (em toda a viagem optamos por ficar nestes quartos de forma a assegurar sermos os únicos com acesso o que nos permitia deixar bagagem no quarto com mais alguma segurança). O preço reduzido era explicado pela falta de circulação de ar do edifício e pelo lance de 30 escadas pelo qual arrastamos as nossas malas para chegar ao quarto. Numa cidade a atingir máximas de 38 graus e onde a sensação térmica nem à noite descia muito abaixo desta fasquia, quase que nos víamos aflitos para respirar. 


Reparámos que íamos chegar durante o que eles chamavam 'Siesta Time', em que não estaria ninguém na recepção para nos fazer o check-in, por isso enviámos um e-mail e a chave foi-nos deixada num cofre para que pudéssemos orientar a nossa vida e bagagem antes que esse período pós-almoço terminasse. 


Depois de termos tudo tratado e serem 17h, já mortos de fome pelo almoço ligeiro e pela viagem longa, aproveitámos os talões de desconto que a recepcionista nos deu para uma refeição com bebida gratuita no The Pier Bar por apenas 10AUD. Ainda que desconfiados do preço tão apetecível, tivemos uma agradável surpresa quando demos com o estabelecimento localizado no Pier, super moderno e com vista para o mar. 

Melhor ainda foi mesmo o jantar: 200gr de bife com batata e salada. Carne um pouco passada demais para nós ocidentais mas depois de tantos hambúrgueres e outras porcarias soube-nos mesmo bem.


Os rapazes ainda tiveram direito a duas cervejas e compraram mais algumas porque era happy hour

Eu e a Madalena escaldadas do dia de praia em Byron Bay, fomos à procura de um supermercado para comprar alguns bens de primeira necessidade que nos faziam falta. Nomeadamente um que eu desconhecia até ao momento mas que com certeza fará parte da minha vida assiduamente nos próximos 6 meses, uns chocolates da marca Tim Tam que não é comercializada em Portugal ou na Europa (acho só mesmo por aqui na Oceânia) e que eu garanto que são um pedaço do céu na terra.



O calor que se fazia sentir estava mesmo a pedir um gelado para arrefecer e como no caminho para o supermercado tínhamos encontrado uma geladaria de gelados de nitrogénio fomos buscar os rapazes para os arrastar até lá. 



Primeiro tínhamos tentado um McFlurry/Sundae no McDonald's mas descobrimos que eles são um pouco fracos nas sobremesas e só vendem as tartes de maçã que também se vendem em Portugal e um gelado chamado ChocoTop que é basicamente um corneto de gelado de nata com cobertura de chocolate. 

Já percorrido o paredão todo, onde no final encontramos um complexo desportivo com um skate park e um campo de voleibol, regressamos para perto da piscina/praia artificial que eles chamam de lagoon

Podia ser uma gaivota, mas como estamos na Austrália é um morcego.




Apareceu um velho todo alucinado e drogado que nos deu um discurso todo enrolado sobre a rainha. Não dizia coisa com coisa e olhava-nos nos olhos de forma super intensa para minutos depois de partir a rir. Nós alinhamos no jogo de rir quando ele ria e ele eventualmente foi-se embora. 

Quando estávamos a voltar para o Hostel demos de caras com um Casino. Como ainda era cedo e estávamos descomprometidos no tempo decidimos tentar a nossa sorte. Um pouco inseguros por estarmos com roupa de praia e chinelo no dedo, atravessámos a porta principal. O Pedro e o Leonardo que iam um pouco mais à frente entraram sem problemas, eu e a Madalena que não tínhamos levado o passaporte ou o cartão de cidadão para jantar vimo-nos obrigadas a regressar ao hostel para nos podermos juntar a eles.

Com os cartões de cidadão não tivemos problema nenhum a entrar. Não existia dresscode. Todo o casino era um pouco desgovernado. Os empregados das mesas de jogo eram super lentos e ineficientes. Nada a ver com os que se vêm nos Casinos Estoril ou Lisboa. E além disso a aposta mínima na mesa da roleta era de 2,5AUD (=1,60€ - na mesa mesmo, não electrónica).

O Pedro conseguiu recuperar o dinheiro que tinha perdido no excesso da bagagem. 
Eu, a Madalena e o Leonardo decidimos não testar a nossa sorte.

Pensámos em ir espreitar a noite australiana mas decidimos que deixaríamos a grande saída para a nossa última noite de férias. 

Voltámos para o hostel onde estava um calor do inferno. A ventoinha no teto que só movimentava o ar quente era inútil. Eu fui tomar banho antes de me deitar mas ao fim de 10 minutos já estava a transpirar ainda que estivesse debaixo da ventoinha. 

Para completar o cenário, o nosso quarto parecia um daqueles que se vê nos documentários sobre tráfego de droga, com dois beliches um frigorífico e grades nas janelas. Parecia que estávamos os quatro à espera que passasse o Juan com o carregamento de cocaína que teríamos de transportar. 

Alucinações e brincadeiras à parte, fiquei acordada mesmo muito tempo sem sono e ia ouvindo os queixumes murmurados por entre o sono deles os três. 

A desesperar e a passar mesmo mal com o calor fui buscar a minha garrafa de água que estava fresca no frigorífico e agarrei-me a ela para a adormecer. A rezar para que no barco o calor não fosse tão insuportável.

J
16 Fev 2016