terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

NIMBIN, THE CHANNON, ROCKY CREEK DAM, MINYON FALLS E BYRON BAY

"Surfers Paradise is the Gold Coast's entertainment and tourism centre and the suburbs high-rise buildings are the best known feature of the city's skyline."


O despertador voltou a acordar-nos com as galinhas. Tocou às 5h15m e às 5h24m nós já estávamos vestidas e na praia. Isto só vem provar duas coisas: a proximidade do nosso hostel à praia, e que eu e a Madalena é que usamos as calças no nosso grupo. Se os rapazes tivessem decidido vir, certamente o despertador teria de ter ficado agendado para mais cedo.

Hoje não haviam tantas nuvens como ontem e por isso o nascer-do-sol era prometedor. Fomos andando pela praia e apreciando a partir de vários pontos até chegarmos à moldura do Surfers Paradise.


(Sem filtro ou saturações).

Vimos mais pessoas saídas da noite nessa ‘madrugada’. Quase todas descalças, apesar de bem vestidas e arranjadas, e de garrafa de água na mão.

Pedimos a um estranho que nos tirasse uma fotografia, e voltámos para o hotel.

Como sabíamos que não teríamos muito tempo de manhã, as nossas malas já estavam prontas desde a noite anterior. Então aproveitamos essa hora matinal para aceder à internet.

Às 7h, acordámo-los para podermos sair por volta das 7h45m.. Queríamos tomar o pequeno-almoço com calma no mesmo café do dia anterior. Obviamente, o Pedro conseguiu atrasar o esquema todo, mas como eu, a Madalena e o Leo estávamos despachados, fomos andando.

Para nossa grande desilusão, o café estava fechado. Não ficámos muito preocupados, pois tínhamos visto uma pastelaria com muito bom aspeto no centro comercial da paragem de autocarro onde tínhamos alugado o carro. Seguimos caminho.



De facto, a loja que nós achávamos que era um café tinha mesmo bom aspeto, só que funcionava apenas como padaria, ou seja, tivemos de comer o pão puro e a seco porque a rapariga muito simpática do balcão só tinha água com gás para nos vender. O Pedro entretanto lembrou-se de aparecer e acabou a comer o pequeno almoço mais estranho desde que chegámos (incluiu desde um pão de queijo que afinal tinha um molho doce, a um cupcake e a uma empada de porco).

Às 8h30m em ponto estávamos a tratar da burocracia do aluguer do nosso carro. Acabou por ser mesmo o que o senhor nos tinha prometido: um SUZUKI COR DE ROSA (!!!). Acho que a cor foi um fator determinante na facilidade com que o Pedro me deixou assumir o volante. Além disso eu e a Madalena fomos as únicas a tratar de emitir a carta de condução internacional e por isso seríamos as que daríamos menos trabalho caso eventualmente a polícia nos mandasse parar.


O nosso boguinhas cor-de-rosa.

A viagem da Gold Coast para Nimbin fez-se melhor do que eu esperava. O Pedro, apesar de um poço de defeitos foi um excelente co-piloto (ele disse que só ia ler o que por aqui escrevo daqui a 30 anos, por isso não me vou poupar muito nos elogios e defeitos que apontar aqui). Só andei em contramão e esqueci-me de destravar o travão de mão uma vez. Portanto sinto que o balanço da viagem foi positivo. 




O GPS foi impecável nas direções e em menos de uma hora e meia chegamos ao nosso destino.



Nimbin.


"Nimbin is notable for the prominence of its environmental initiatives such as permaculturesustainability and self-sufficiency as well as the cannabis counterculture."


Uma vilazinha mais para o interior da Austrália com uma população digamos mais alternativa e liberal. 

A primeira abordagem que nos foi feita, foi de uma velhinha escura e desdentada: "Are you looking for anything? Do you want marijuana cookies?".
Nós tínhamos uma vaga ideia do sítio para onde íamos, mas não sabíamos que estas situações eram tão indiscretas. Agradecemos a oferta mas vimo-nos obrigados a recusar e seguimos para visitar a propriedade que assinalava o início desta terriola. 




Tudo na cidade tinha desenhos e muita cor.

Era uma casa bastante segmentada. Tinha um pequeno bar onde o Pedro bebeu café. A esplanada era animada por uns senhores a tocar música ao vivo enquanto uma senhora dançava. Além disso estava dividida entre zona para fumar e zona para refeições. Tinha uma loja com artesanato local e nas traseiras tinha uma loja e fábrica de velas locais.



Todos os meus coleguinhas desta aventura vão soprar as velas durante este semestre. Eu sou a infeliz que não está contemplada na experiência de celebrar o meu aniversário no estrangeiro. Mas achei que seria engraçado se as nossas velas fossem uma recordação deste sítio de lunáticos e por isso comprei um pack de 20 velas coloridas. 



Conhecido este mini museu da cera transformada, voltámos ao centro. Acho que podíamos encher uma mão com o número de abordagens que nos fizeram para vender os biscoitos mágicos. Entre uns "não" e uns “já voltamos", fomos evitando os vendedores ambulantes. 




Impelida pela curiosidade, ganhei coragem e falei com uma velhinha vendedora (das que tinha um ar mais normal). Queria saber como funcionava a legislação por ali. Toda a cidade aludia a um movimento pro-consumo e venda de erva mas descobri que esta não deixava de ser ilegal e que existia controlo policial regular. O que acontecia é que os vendedores cooperavam entre si para não serem apanhados. 

Já tínhamos visto meia dúzia de lojas e eu perguntei se havia algum ponto mais turístico para ver. A senhora respondeu-me muito animadamente que costumava existir um museu mas que este tinha ardido muito recentemente. 




Continuamos por isso só a visitar as lojas e a apreciar todos os murais e formas de arte que por lá existiam. 






Por volta da hora de almoço fomos até ao ponto de informação local procurar outras terras para explorar nos arredores. O Pedro ainda não tinha ultrapassado a ideia de ir visitar cascatas e por isso o senhor muito simpático indicou-nós duas que poderíamos visitar é uma terra onde poderíamos almoçar. 

Pegámos no carro e seguimos caminho. 



The Channon. 




"Like many villages in the area, there is cattle farming, general grazing and small crop farming. There are also many permaculture and organic farms and macadamia and coffee plantations, as well as a number of intentional communities."


Era a terra onde deveríamos almoçar. Entramos na primeira e única taverna que encontramos e a empregada muito educadamente disse nos que àquela hora (15h) já só serviam batatas fritas e aperitivos. Eu já estava a fazer o pedido quando o Pedro perguntou (à cara podre) se não existiria algum outro estabelecimento a servir refeições. A senhora mais uma vez, de forma super educada e simpática disse que, por acaso, se encontrava a realizar um mercado, um pouco mais à frente na estrada por onde tínhamos vindo. 

Não demoramos mais que 5 minutos a dar com um enorme descampado cheio de carros e tendas onde acontecia o mercado. 


Mais uma vez, com umas vibrações muito rústicas e alternativas. Pessoas descalças e com aparências diversificadas e descontraídas.






Encontrei uma roullote a servir pratos italianos e apostei nela. Tinha um aspeto um pouco sujo mas dadas as alternativas, decidi que seria ali mesmo. Pedi esparguete com molho de tomate, em Portugal seria qualquer coisa como pedir spaghetti al pomodoro na Capricciosa, e não me arrependi. 



Estava um calor abrasador. Não houve um dia em que o termómetro não batesse nos 30 graus centígrados. E depois de ser servida olhei em redor e não havia uma sombra livre para poder almoçar nem sentada, nem de pé. Perguntei um pouco envergonhadamente e o dono muito despachadamente convidou-nos para almoçar na tenda por de trás da roullote ao lado, onde se encontravam dois seguranças a almoçar. Foram super prestáveis e arranjaram-nos duas cadeiras. O Pedro e o Leonardo que compraram kebabs também foram convidados a juntar-se a nós. E acabamos todos a almoçar descontraídamente nas traseiras numa conversa animada com os seguranças. 



Não é o caso desta fotografia, mas nesta zona desenham este género de pintura nos buracos da estrada para os podermos evitar.


Nisto eram por volta das 15h30 e por isso vimo-nos obrigados a escolher de entre as duas cascatas que o senhor do ponto de informações de Nimbin tinha sugerido. Optamos pela maior e de melhor acesso para o carro. Mas sabíamos que no caminho existia a hipótese de visitar uma espécie de barragem com umas vistas bonitas e por isso fizemos esse desvio. 


Rocky Creek Dam. 

"Rocky Creek Dam is a minor rock fill clay core embankment dam across the Rocky Creek, located upstream of Lismore in the Northern Rivers region of New South Wales, Australia."

Existiam vários percursos pedonais e eu penso que acabamos por cobrir todos e até inventar alguns. 
Depois de atravessarmos o dique/barragem demos com uma queda de água. Não contentes com o percurso que as setas nos indicavam decidimos atravessar a queda de água pelas rochas secas. Descemos e fomos apreciar a pequena lagoa onde a água se acumulava.
Voltamos ao percurso normal e fomos andando. Sempre ladeados por floresta e por um percurso de água doce onde, se tivéssemos tido alguma sorte, deveríamos ter avistado ornitorrincos no seu estado selvagem. 





Chegamos a ver uma sombra na água que poderia ou não ser de facto um ornitorrinco mas sem certezas. 




Não sei se já o referi mas por aqui não é muito anormal cruzarmo-nos com lagartos. Nós chamamos lhes iguanas mas na realidade já vimos vários répteis de várias formas e feitios e enfiamo-los todos no mesmo saco por não sabermos ao certo com o que estamos a lidar.
No nosso percurso vimos alguns e mantivemos sempre uma distância de segurança que nos pareceu razoável. 


No final do circuito vinha eu muito contente a andar pelos prados verdejantes quando ouço o Leo a dizer "O que é que está a andar aí à tua esquerda?". Olhei para o lado e tinha um lagarto monstro (com 1,5-2m fáceis) a andar no sentido contrário ao meu. Apanhei um susto valente e alterei um pouco a minha trajetória para ter a certeza que o evitava. A Madalena seguiu o meu exemplo mas os rapazes decidiram aproximar-se para filmar e fotografa-lo. 




Abastecemo-nos de água (a Austrália é pródiga em bebedouros de rua e em lugares públicos o que nos poupa tempo e dinheiro na compra de garrafas de água) e rumámos ao destino seguinte.


Minyon Falls. 


"The waterfall descends more than 100 metres over the huge rhyolite cliffs which were once part of the Tweed Volcano."


Ou por outras palavras, e com certeza, um dos locais mais bonitos deste planeta que eu já tive a sorte de experimentar ao vivo e a cores. 

Mas antes das fotografias e da descrição que eu sei que de qualquer forma não fará justiça ao local, tenho de reparar que nos enganamos na estrada e que o GPS não tinha esta maravilha da natureza marcada e por isso, acabamos por enveredar num trilho muito mal pavimentado que nos acrescentou uma hora à viagem. Por esta altura riamos às gargalhadas a pensar no senhor que nos tinha alugado o carro. Quando falamos com ele a primeira vez dissemos que a nossa intenção era ter um meio de transporte que nos alargasse o tempo disponível para visitar Byron Bay. Na altura essa era a nossa real intenção mas também na altura desconhecíamos Nimbin e todos estes outros lugares. Aos altos e baixos fomos seguindo caminho. 



Até que ao fim do que nos pareceram uns 40 minutos de viagem damos com um sinal a dizer que iríamos atravessar uma via com possíveis cheias. Quando nos apercebemos que poderíamos ter de fazer o caminho todo de novo para regressar à estrada inicial sem visitar as cascatas houve um pequeno ataque cardíaco coletivo no carro. 

A estrada tinha de facto um curso de água a passar-lhe por cima. 

O Pedro, sempre disposto a dar uma pela equipa, foi mergulhar os pés e avaliar a profundidade. Segundo os cálculos dele, era seguro atravessar. 





Por esta altura já tínhamos andado tanto de carro que já nem tínhamos a certeza se estávamos na estrada certa. Mas estava fora de questão voltar para trás. 




De repente, e mesmo de forma inesperada demos com as cascatas. Foi mesmo imprevisível mas de repente estávamos no sítio certo. E quão certo. 


Sei que já revelei mais atrás no texto, mas foi de longe uma das vistas mais bonitas que já experimentei. Ao nosso lado tínhamos a água a cair de mais de 100m de altura. Na lateral havia uma encosta e lá em baixo uma floresta serrada. 




Um barulho ensurdecedor surgia da floresta. Era uma sinfonia caótica e harmoniosa ao mesmo tempo, a que se ouvia. Não sei bem como explicar. 





Tiramos todas as fotografias e mais alguma mas depois houve uma necessidade coletiva de pararmos apreciarmos o momento e afirmarmos em voz alta aquilo que tínhamos acabado de ver. Estávamos no meio da Austrália, com um Suzuki cor-de-rosa alugado, a ver uma cascata que a maioria dos meus amigos ou família provavelmente nunca viu ou verá. Parece super clichê, mas senti-me mesmo agradecida e viva. Nunca ganhei a lotaria mas já experimentei momentos de felicidade por aqui (e não só) que eu diria que não devem estar longe de um sentimento parecido. 




Eram 18h30 quando decidimos abandonar o sítio. Foi com pena que não pudemos descer à base da cascata para a ver de outra perspetiva mas tínhamos medo que a recepção do hostel já se encontrasse encerrado quando chegássemos. 


Escrevemos o nosso novo destino no mapa e partimos. 


Byron Bay. 

"The local Arakwal Aboriginal people's name for the area is Cavvanbah, meaning "meeting place"."

Apesar de não constar no seu nome como a cidade da Gold Coast, é outro paraíso australiano para surfistas de todo o mundo. 
E o nosso hostel então (Backpackers Inn) parecia uma mini cidade dessas pessoas que ganham escamas de passar tanto tempo em cima de uma prancha no mar. Quando digo uma mini cidade não estou a exagerar. Loiros e loiras por todo o lado e todos super bronzeados. Não perguntei a capacidade do hotel mas diria que existiam à vontade mais de 200 pessoas, a maioria em bikinis ou calções de banho, espalhadas um pouco por todo o lado. Quando chegamos o recepcionista anunciou-nos que era noite de cinema e que se quiséssemos podíamo-nos juntar no jardim para ver o filme que estava a ser projectado. A proposta era aliciante mas estávamos cheios de fome por isso largámos as malas no quarto e arrancámos para o centro.




Por ser dia dos namorados todos os restaurantes estavam cheios ou com menus próprios. Demos umas três voltas ao centro para acabarmos por uma vez mais a comer hambúrgueres… Pagámos o habitual mas o serviço não foi nada de especial por isso senti que não compensou muito o preço.
Saímos do restaurante com fome e passámos numa loja de chocolate. Eu que claramente já esqueci o espírito e a minha determinação do ano passado pedi um crepe de chocolate e o Leo e o Pedro pediram outro. Foi de longe o melhor crepe de chocolate que comi em toda a minha vida. Já passou algum tempo desde que lá fui e não consigo parar de salivar só de pensar nele.





Regressámos ao hotel, queríamos ir espreitar a praia a que tínhamos acesso direto. Passámos pelo jardim onde estava a terminar a sessão de cinema (tive pena que não nos tivéssemos juntado porque o ambiente parecia incrível), e onde vários grupos conviviam à mesa ou enquanto faziam um churrasco).


O acesso à praia era feito por um portão com código de segurança. Do outro lado desse portão encontrámos um trilhozinho por entre vegetação até ao areal da praia. Quando chegámos mais perto do mar sentámo-nos na areia para contemplar o céu. Tenho uma imagem super vívida daquilo que vi e dúvido que algum dia a consiga igualar. O céu tinha algumas nuvens mas estava COMPLETAMENTE estrelado. Como a luz na praia era praticamente inexistente, conseguíamos ver milhões de estrelas. (De vez em quando passavam morcegos por cima de nós.) Gostava de ter uma fotografia mas temo que me vá ficar apenas pela memória. Foi mesmo uma experiência incrível.


No regresso para o hotel pelo mesmo trilho, andávamos em filinha indiana quando de repente uma cobra estava a atravessar o trilho. Não foi o maior susto da minha vida mas não esteve muito longe. Eu fiquei à beira das lágrimas e a Madalena panicou de igual modo. Os rapazes tiraram só os teremóveis dos bolsos para tirar fotografias.


Conseguimos chegar sãos e salvos, apesar de eu nunca me ter sentido tão insegura e ameaçada por animais selvagens num percurso de 50m (nem quando visitei África). Tomámos o banho que merecíamos depois de um dos dias mais incríveis que tivemos por aqui. E adormecemos.


J
14 Fev 16


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