É curioso como não me apercebi do tempo a passar e como entrei numa rotina que me afastou da escrita. Curioso também a quantidade de coisas que se passam num ano e como nem nos apercebemos delas.
Vou tentar em 18 pontos resumir alguns dos momentos mais felizes, mais marcantes e mais memoráveis do ano 2018:
Em Janeiro realizei o meu último exame do curso, concluindo assim a Licenciatura em Economia na Nova SBE.
Viajei até um país novo - Japão - e foi a primeira vez que o fiz com o MD, em Fevereiro deste ano.
Quando cheguei a Março, criei a segunda de duas tradições que iniciei com amigos para garantir que os via mais frequentemente.
Também em Março, meio que condenei essas tradições ao fracasso quando aceitei a minha primeira proposta de emprego a tempo inteiro.
Em Abril, despedi-me da minha família, amigos e namorado para iniciar esta nova aventura laboral na Irlanda.
Não tardei em regressar; em Maio regressei para surpreender a minha família pela primeira vez.
Em Junho não voltei para a Irlanda sem partir pela primeira vez numa viagem de trabalho para um destino que me era desconhecido: Milão.
No final de Junho e princípio de Julho, fiz os sacos e parti com o MD para o nosso primeiro acampamento, numa ilha, no arquipélago das Berlengas.
Fugi ao tempo português anormal que se fez sentir no fim de Julho e fui com o meu pai conhecer melhor uma cidade que achava já conhecer, Sevilha.
Em Agosto, decidi que o melhor sítio para passar uma das maiores vagas de calor de sempre em Portugal seria na nossa velha casa de família no Alentejo.
No mesmo mês, arranquei de Cascais até Cabanas de Tavira, acompanhada pelo MD e fiz a minha primeira descida da Costa Vicentina.
Em Sagres, reencontrei amigos de infância e revivi tradições que tinha perdido no tempo.
Em Setembro, visitei Londres por duas vezes e em ambas fui saudada por um dos verões mais quentes que se fez sentir na cidade; aproveitei o contexto e viajei mais cedo naquela que foi a minha primeira real viagem a solo.
No mesmo mês, recebi a minha mãe e o meu irmão em Dublin e foi então a primeira vez que tive família a visitar-me.
Em Outubro, a saudade bateu forte e eu fiz a minha primeira compra de um bilhete de avião por impulso.
Novembro arrancou com uma celebração em Dublin com amigas de longa data.
Pelo meio, celebrei o aniversário do MD, a minha graduação e soprei 22 velas.
Penso que a minha décima oitava conquista terá mesmo sido regressar a este sítio tão querido, obrigar-me a fazer esta reflexão e relembrar-me o quão feliz sou a escrever.
Não sei bem o que vou partilhar a partir daqui, mas encerro 2018 com a vontade de que 2019 seja um ano em que retomo este hábito.
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Quase 150 dias depois, a última chamada repete-se mas desta vez com um destino bastante conhecido e acarinhado.
Se há 5 meses o cenários era de mil dúvidas e incertezas, sinto que agora não tenho assim tão mais garantias. Tive a oportunidade de me cruzar com muitos viajantes que estiveram longos períodos longe de casa e muitos concordaram que voltar para casa não os enche; que chegam e ao fim de algumas semanas tudo parece igual e a vontade de partir volta a assombra-los. Ainda não cheguei, mas regresso com vontade e por isso não sei se me junto a esse grupo de inconformados que gosta de viver sem morada e de mochila às costas. Neste momento sinto que tudo em casa até pode continuar igual; tudo, menos eu. Eu não volto igual e essa certeza para mim chega-me.
Acho que nem um texto nem um livro chegariam para explicar o que sinto que esta experiência fez mudar em mim.
Foram 4 meses e 26 dias, 15 voos, muitas cidades e muitas pessoas. Muita tinta no papel e muita na caneta (porque acabei por me desleixar e não registar tudo). Muitas chamadas, mensagens e postais (um novo vício). Muitos momentos felizes e poucos ou nenhuns de tristeza e de arrependimento (e prometo que olhando de longe estes últimos são tão insignificantes que mal se notam ou fazem sentir).
Muitas perguntas, algumas respostas e bastante inconformação. Mas não me preocupo, acho que em parte foram estes factores (entre outros) que me levaram ao outro lado do mundo e que espero que me levem a muito mais sítios. Só não digo mais longe porque penso que mais longe agora só se for à Lua.
Nos nossos antípodas já estive, agora faltam-me os outros e os antípodas dos outros.
Estão todos na lista, e eu tenho tempo.
[Disclaimer: comecei a escrever nas Fiji, mas só acabei e dei os últimos retoque na NZ por isso o texto já vai com insights futurísticos do que se passou nos dias seguintes, nomeadamente no campeonato]
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Diretamente das F I J I. Estou cá. De partida para casa (a neozelandesa, a portuguesa ainda vai ter de esperar um bocadinho) e mesmo assim acho que ainda não percebi que é real.
Vir às Fiji era aquela viagem que estava arrumada no cantinho da minha mente mas que eu achei que nunca ia acontecer.
Em jeito de brincadeira, há uns anos, quando o Jorginho, um dos meus irmãos mais velhos, terminou o curso para se tornar piloto, eu mandei para o ar que ele tinha de fazer voos de longo curso para um dia termos a oportunidade de vir às Fiji ver o campeonato de surf. Mas era uma brincadeira inocente, nunca na vida pensei que parte desse sonho se viesse a concretizar.
Para contextualizar um bocado, já em Lisboa eu e a Madalena tínhamos andado a espreitar voos e companhias aéreas mas quando dei por mim a analisar bilhetes a 800€ (quase o mesmo que um bilhete da Austrália para casa) parei de sonhar e deixei andar. Quando a Madalena esteve cá na midsemester break (e eu sei que não escrevo desde aí mas aproveitei a vontade que me surgiu agora espontaneamente e o tempo livre para o fazer agora) disse-me que estava a combinar vir a Nadi com as colegas de casa e convidou-me.
O convite era tentador mas nessa altura os voos continuavam a um preço estúpido e o fim-de-semana que ela tinha previsto era impossível para mim por causa de trabalhos da faculdade. Mesmo assim fomos falando aqui e ali sobre o assunto e assim muito de repente a Air New Zealand pôs os voos em promoção. 350€!!! Menos de metade daquilo que eu esperava pagar. O preço já era o ideal mas eu continuava sem maneira de viajar nas datas da Madalena.
A oportunidade acabou por surgir mais facilmente do que eu esperava. Já sabia que o Leo estava doido por vir às Fiji e quando lhe contei sobre a promoção fizemos os dois o choradinho aos nossos pais (as promoções da Air New Zealand nunca duram mais de 3 dias por isso foi um choradinho sobre pressão) e a duas horas do final da mesma marcámos o voo.
E pronto, dia 24 enfiamo-nos num avião de Dunedin para Auckland e fizemos uma escala sofrida de 12 horas no aeroporto. Às 9h45 embarcamos no avião que nos trazia para Nadi e 3 horas depois despimos os casacos e as sweatshirts a que o tempo neozelandês obriga por esta altura para abraçar o calor de 30 graus que as Fiji oferecem. (Palmas para a Air New Zealand que mais uma vez me provou porque é que é considerada das melhores companhias aéreas do mundo; o voo foi feito no avião que faz a ligação Auckland-Los Angeles e por isso viajámos em grande).
Começo por contar que achei que ia ser deportada. E caso acontecesse não sei se voltava para Portugal ou para a Nova Zelândia, mas vivi uns 10 minutos de incerteza. Como eu e o Leo vamos voltar para a Nova Zelândia e explorar um pouco a ilha norte, pus na mala de porão as botas de montanhismo e esqueci-me completamente que eles são todos esquisitinhos com a imigração de espécies/sementes nas alfândegas e seguranças do aeroporto. A senhora só me perguntou se tinha comida na mala mas eu sustive a respiração durante o minuto que passou desde pôr a mala no raio-x e passar pelas portas para a zona das chegadas.
Quando chegámos já tínhamos o transporte oferecido pelo nosso hotel à nossa espera e foi uma viagem de 15 minutos até chegarmos ao Wailoaloa Beach Resort.
Para o preço fiquei bastante bem surpreendida (até ao cair da noite pelo menos). 13€ por noite para um quarto com uma cama de casal, uma individual, casa de banho privativa e pequeno-almoço. Pareceu um preço caído céu. Ainda com direito aos transfers de e para o aeroporto e uma piscina bastante agradável.
(O calor é tal que as janelas não têm vidro, só rede mosquiteira)
Deixámos as malas no quarto e seguimos em direção à praia, onde a Madalena disse que havia um bom hostel para jantar. O problema é que não havia um hostel, haviam cinco. Nós entrámos no primeiro e a cozinheira torceu um bocado o nariz porque eram quase 15h. Para melhor a situação, só depois do pedido é que nos lembrámos que não tínhamos dinheiro local e perguntámos se podíamos pagar com cartão. A gerência aceitou mas avisou que só para compras superiores a 10FJD e que aplicavam uma taxa de 5%. Dado que 10FJD são menos de 5€ e as taxas sobre isso seriam menos de 20 cêntimos, aceitámos e pedimos duas tostas. Pode ter sido por termos passado o voo a ver os outros passageiros a comer enquanto passávamos fome (bilhetes low-cost têm as suas contrapartidas) mas as tostas souberam-nos à vida e eu achei que o preço era de uva mijona.
Um bocado desorientados e sem tempo para grande aventuras decidimos voltar para o "resort" (or so they call it) e aproveitar o resto da tarde na piscina.
Decidimos que íamos voltar ao mesmo sítio para jantar, dado que tinha sido uma boa escolha ao almoço.
O caminho para lá era uma rua mais ou menos movimentada mas sem luz nenhuma. Antes de nos aventurarmos consultei a Madalena que disse que fez a estrada todos os dias sem problemas. Seguimos à confiança mas passámos numa loja de conveniência primeiro para comprar águas e snacks para os dias seguintes. A máquina multibanco não funcionava e por isso o Leo mais uma vez ofereceu-se para pagar com cartão as compras dos dois e as taxas que eles insistiam em cobrar.
O caminho para o hostel do almoço foi mais curto. Pedimos cada um esparguete à bolonhesa e sentamo-nos na mesa mais perto da areia com vista para os outros restaurantes/hostels. No do lado estava a decorrer um show de dança do fogo e nós apreciamos ao longe. Quando terminámos fizemos o caminho de volta pela estrada escura e deitamo-nos cedo. À porta do quarto tínhamos um sapo sinistro para nos receber.
Eu acordei no dia seguinte ainda com sono. Não sei se foi por não ter reposto as duas noites mal dormidas anteriores mas mal conseguia abrir os olhos. Segui para o pequeno-almoço enquanto o Leo ficou na ronha. Era um pouco básico mas como estava a pagar por noite aquilo que um hotel normalmente cobra só pelo pequeno almoço senti-me contente com as minhas torradas.
Decidi(mos, normalmente o Leo é bastante indiferente às que escolhas que faço/fazemos e acabo por ser eu a tomar as decisões) que íamos passar o dia na praia. Mas não queria passar na praia dos hostels que ficava perto do resort por isso procurei no Google e apareceu Port Denarau.
O motorista do hotel levou-nos a uma caixa multibanco e depois seguimos para o que tal como o nome indica era o Porto de Denarau. E como é um porto não tem praia... Aproveitámos para ver as lojas da marina e almoçar. O Leo pediu um peixe grelhado e trouxeram-lhe frango mas para se redimirem ofereceram lhe a bebida.
Andámos a explorar as lojas e os souvenirs das Fiji e perguntámos pela praia mais próxima ao que nos responderam que só poderíamos ter acesso à praia através de um resort mas que se pedíssemos uma bebida qualquer no bar não haveria problema.
Como não me contento por menos e não fiquei num hostel por 13€/noite nem nada, decidi que era pelo Hilton que iríamos ter acesso.
Depois de uma caminhada de 20 minutos (desconhecíamos a existência dos Dollar Bus que levavam os hóspedes dos hotéis para o porto e para a cidade) chegámos à entrada imponente do Hilton. Um pouco nervosos por não saber bem como entrar fingimos só que pertencíamos ao sítio e seguimos em direção ao mar, passámos pela piscina, um restaurante e um bar e chegamos ao areal. E a decepção não podia ser maior... A praia era terrível (como qualquer uma em Nadi, como depois viemos a descobrir): areia e água suja. Só a abundância de palmeiras perto da praia é que correspondeu às expectativas. De resto, nada de água azul turquesa como se vê nas brochuras das agências de viagens. E estávamos num Hilton...
Aproveitámos para apanhar sol porque não íamos fazer o caminho de volta por não sabermos mais nenhum sítio onde ir.
No final da tarde concordámos em ir ao bar tomar qualquer coisa para vermos o pôr-do-sol. Eu acabei por não pedir nada e o Leo pediu um sumo tropical. Perguntaram-nos em que quarto estávamos e quando dissemos que não estávamos hospedados, o empregado disse que depois recolhia o pagamento na mesa.
Entretanto estivemos meia hora sentados mas como havia nuvens e o pôr-do-sol não era muito prometedor levantamo-nos para ir embora. Quando o Leo tentou pagar de novo, outro empregado voltou a perguntar em que quarto estávamos hospedados, ao que o Leo voltou a responder que éramos apenas visitantes. O empregado sorriu, estender-lhe a mão e desejou-lhe um bom dia. E foi assim que o Leo bebeu um sumo sem pagar no Hilton de Port Denarau.
Saímos e voltámos ao porto para apanhar um táxi de volta ao hostel. O Leo ficou a namorar as camisas estilo Fiji e eu perdi-me nos corredores de souvenirs até efetivamente nos fazermos de volta ao resort.
Entre tomar banho e ir à internet, era hora de ir jantar. Voltamos a ir a pé até à rua dos hostels em cima da praia e decidimos ir ao que tinha tido o espetáculo na noite anterior. Era caro e estava a abarrotar. A Fijian que nos recebeu viu que não tinha mesas e muito à vontade perguntou a uma rapariga que jantava sozinha se não se importava que nos sentássemos nos outros dois lugares da mesa.
Eu achei que a rapariga estava à espera do namorado e que ia ficar um ambiente estranho de double date na mesa (que não era de todo o cenário), mas ao fim de 15 minutos é que o Leo me disse que ela estava sozinha e então decidi puxar conversa.
Era belga, estava há 11 meses a trabalhar e a viajar pela Austrália e já tinha feito viagens semelhantes pelo Sudoeste Asiático. Era mais velha que nós (28 anos) e via-se mesmo que tinha imensa experiência neste tipo de viagens. Contou-nos que na noite anterior ao fazer o caminho de volta para o hostel desde a loja de conveniência da esquina, um carro encostou e uma Fijian muito simpática ofereceu-lhe boleia e avisou-a que não deveria repetir a caminhada uma vez que era normal haver assaltos por locais escondidos nos arbustos da berma. E foi assim que ficámos avisados que mais valia pagar $3 (menos de 1,5€) e voltar em segurança para o hostel que ficava nem a 700m de distância.
Deu-nos outros conselhos sobre como poupar dinheiro e fazer uma tour cultural pela ilha por menos de 1/5 do que os taxistas nos queriam cobrar. Contou-nos que no dia seguinte estava a contar ir às piscinas de lama e ao Sleeping Giant Garden mas como já tínhamos outros planos combinámos que ela depois nos daria o feedback.
Depois da história assustadora sobre a estrada escura regressámos de táxi os três para o resort, pois ela também estava hospedada no Wailoaloa.
Muito baseados no roteiro que a Madalena tinha seguido na semana anterior marcámos para o dia seguinte a nossa ida a Cloud 9.
Para quem possa não saber Cloud 9 é uma expressão utilizada para se expressar que se está nas nuvens ou uma sensação flutuante, como quem visita o paraíso.
Agradecimentos ao Urban Dictionary pela definição.
De facto o bar Cloud 9 que visitámos era um pequeno paraíso flutuante. A 45 minutos de lancha de Port Denarau, é uma espécie de jangada de dois andares com um bar e forno de lenha a bordo com espreguiçadeiras para se aproveitar o sol e o mar azul (com mil tons de turquesa).
Nós comprámos um pacote em promoção no bookme.com.fj (website de promoções que existe pelo menos na Nova Zelândia, Austrália e Fiji e nos poupou 20€) por 169FJD, o que nos ficou a cerca de 70€, e que incluía um voucher de 50FJD para gastar em comida e bebida a bordo.
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Eu cheguei a Cloud 9 em euforia total. O Leo é sempre mais contido... Passou-me a euforia quando percebi que o sítio estava um bocado sobrelotado quando chegámos (o transporte para Cloud 9 é feito por diversas empresas) e já não havia nenhuma espreguiçadeira ao sol disponível.
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Decidi não ligar, pôr-me de bikini e atirar-me do segundo andar para o mar lá em baixo. A Madalena já me tinha avisado que não havia problema, eu confirmei com um local do Staff e atirei-me borda fora.
Ninguém estava à espera porque ainda ninguém tinha começado a saltar, então assim que vim à superfície tinha umas 5 cabeças curiosas a espreitar pelo corrimão. De repente tinha dado início a uma procissão. A seguir a mim saltaram umas 10 pessoas e depois o fluxo foi constante até abandonarmos o sítio.
No primeiro salto, assim que vim ao de cima estava a uns 3 metros do "barco" e assim que comecei a nadar dei conta que estava uma corrente fortíssima. Para chegar às escadas das traseiras já vinha a arfar. Por isso dei-me por contente e procurei por um lugar ao sol. Inexistente, claro.
Decidi pendurar-me no corrimão e deitar-me ali. Não passaram 20 segundos até um pai de família todo aflito vir ter comigo e dizer que eu não devia fazer aquilo e ofereceu-me uma das espreguiçadeiras dos filhos que estavam entretidos a fazer snorkeling. (Valeram os 20 segundos de perigo mortal).
Aproveitei o sol e sequei num instante. O Leo entretanto foi pedir as nossas pizzas e o timing foi perfeito pois quando ficaram prontas voltou o filho do senhor que me tinha emprestado a espreguiçadeira.
Descemos e aproveitámos o almoço com provavelmente uma das melhores vistas de sempre.
A fazer a digestão aproveitei para ler e pus-me de olho nas camas da frente do barco pois as pessoas que lá estavam tinham chegado em barcos antes de nós, o que significava que partiriam também antes de nós.
Assim que o primeiro casal se levantou corri, literalmente, e conquistei o colchão livre. E passei o resto da tarde ali, entre a minha caipiroska, o mar, o sol e o meu livro.
Quando faltavam 15 minutos (ou pelo menos nós pensávamos que faltavam) para partirmos, o Leo desafiou-me para mais um salto. Corremos para o andar de cima e saltámos um de cada vez. E assim que aterramos reparámos que o nosso barco para o regresso estava a atracar para embarcarmos.
Fui a correr trocar de bikini mas mesmo assim entrei encharcada no barco.
Atracámos em Port Denarau e eu fui babar-me para cima do iate da WSL que lá estava atracado.
Eu só dei conta que o campeonato feminino ia estar nas Fiji ao mesmo tempo que nós cerca de 3 dias antes e fiquei doida só com a possibilidade de me cruzar com algum(a) surfista profissional do circuito. Mas aceitei logo à partida o facto de que nunca iria conseguir ir até a Tavarua porque o transporte tanto para lá como para Namotu, a ilha vizinha, é feito por barcos privados com acesso exclusivo.
Só que ver o iate deixou-me com a pulga atrás da orelha e uma rapariga do staff quando nos encaminhávamos para Cloud 9 disse que era possível ir até Cloudbreak. Por isso decidi explorar a hipótese e andei pelo porto de empresa em empresa a perguntar qual era a minha melhor hipótese para chegar lá.
Deram-me um flyer e eu comecei logo a sonhar, mas já andava a contar tostões e se queria visitar Nadi, ia ter de tomar decisões sérias.
Voltámos ao hotel e nessa noite nem jantámos. A pizza do almoço era enorme e por volta das 19h comecei a sentir uma dor num dos ouvidos. Comecei a rezar a todos os santinhos e mais alguns para ser algo passageiro porque eu não faria ideia de como ir a qualquer tipo de posto médico se a coisa se agravasse. Deitei-me cedo e adormeci na esperança de acordar sem dores.
Na manhã seguinte eu tinha a resposta ao e-mail que tinha enviado na tarde anterior. 150FJD e punham-me num barco para ir para o canal de Cloudbreak ver o campeonato. A proposta era tentadora, mas mesmo assim eram mais 65€ e eu não tinha o suficiente para fazer a visita de táxi (forma mais fácil de nos deslocarmos pela ilha) e ainda ir para Cloudbreak.
Começámos então a ponderar a sugestão da belga da segunda noite da nossa estadia e concordámos em aventurarmo-nos nos transportes públicos locais. À saída do hotel demo-nos de caras com ela que ia fazer o mesmo que nós (no dia anterior tinha perdido o único autocarro que partia do centro para as mud pools) e explicou-nos que não era bem preciso irmos para nenhuma paragem e que o motorista se limitava a encostar caso visse pessoas à espera na berma da estrada. Então esperámos, porque nas Fiji não há horários para autocarros, vive-se em Fiji time ("no hurry, no worries") e sabe-se só que "lá para as 11h30" passa o tal autocarro. E com uns 8 minutos de atraso lá apareceu.
Sem vidros e com uns travões que me davam pele de galinha por causa do chiar agressivo, lá fizemos a nossa viagem até ao centro. Quando chegámos separámo-nos da belga que seguia para as piscinas e optámos por visitar apenas os mercados e o templo hindu (a maioria da população da ilha tem origem indiana).
E de facto, senti-me numa Índia de pequena escala, país que eu nunca tive e continuo sem ter grande curiosidade em visitar por associar sempre a excesso de pessoas e de sujidade. E isso refletia-se perfeitamente na cidade. Em menos de 3 minutos já não víamos turistas em lado nenhum e só pessoas com aquele tom de pele mais escura.
Não tínhamos mapa e não havia nenhum centro de informação para turistas, fizemo-nos à estrada e evitando encontrões das multidões de locais que passavam nas ruas eventualmente demos com o mercado municipal.
Não estivemos lá muito tempo. Era N O J E N T O. Eu admito que sou muito nojentinha e de estômago, nariz e paladar sensíveis, mas acho que qualquer pessoa do mundo ocidental partilharia da minha opinião se vissem as condições em que a maioria das mercadoras tinha os seus espaços no chão (porque nem bancas havia). O peixe e o marisco estavam dispostos em pedaços de cartão rasgados pelo chão, cobertos de moscas e mosquitos que as mulheres tentavam calmamente afastar com abanicos. O cheiro deixou-me com náuseas e eu avisei o Leo que se continuássemos ali não ia conseguir manter o pequeno-almoço no estômago (que nesse dia até tinha sido bem composto com direito a ovos mexidos e tudo).
Seguimos caminho, mas totalmente à deriva e sem rumo.
(Só mesmo em Fiji time)
Por acaso demos com o mercado de artesanato. Bastante mais pequeno e menos frequentado. Nem aí encontrámos turistas. Os vendedores cumprimentavam-nos todos e convidavam-nos a entrar nas suas barraquinhas e eu saí de lá com um íman para ter como recordação.
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Depois lá perguntámos a meia dúzia de locais como é que nos orientávamos para o templo e eventualmente chegámos. Estava um calor descomunal e como em qualquer templo ou edifício religioso a entrada tinha dresscode e eu que estava com um vestido de alças, curto e com decote nas costas tive de me cobrir toda com sarongs.
Pagámos 10FJD pela entrada e pelo empréstimo de roupa e entrámos descalços no templo para contemplar as pinturas dos tetos.
Depois de meia hora e já com dores no pescoço, saímos em direção ao centro. Aproveitei para levantar dinheiro e procurei por souvenirs mas não encontrei nada do que procurava.
Eram por volta das 13h30 quando decidimos tentar regressar e um local avisou-nos que o nosso autocarro partiria por volta das 14h (sempre sem certezas...). Esperámos até a essa hora mas em vez do nosso autocarro estacionou outro com outro destino. O condutor avisou-nos que o próximo autocarro com destino a Wailoaloa só partiria às 15h e por isso demo-nos por vencidos e negociámos um táxi de volta a casa.
Quando regressei já tinha tomado a decisão e respondi ao e-mail a reservar a aventura do dia seguinte. Em menos de 10 minutos recebi a confirmação e a informação de que alguém me viria buscar na manhã seguinte pelas 6h45. O Leo que não é fã de surf decidiu que passaria o dia pelos arredores.
Cheios de fome voltámos à praia para almoçar e para ir à loja de conveniência comprar mais mantimentos. Eu comprei reforços para levar para o mar no dia seguinte.
Depois de almoçar, de comer um gelado e de deixar as compras em casa decidimos experimentar Wailoaloa, apesar de sabermos que a praia não era muito prometedora.
Água suja, areia suja. Até se sentia um cheiro desagradável. Mas como não tínhamos alternativa passámos por lá a tarde e ficámos até ao pôr-do-sol, altura em que regressámos para não corrermos o risco de fazer a estrada pela escuridão de novo.
Como era a nossa última noite decidimos que não íamos poupar e regressaríamos ao restaurante da dança do fogo, na esperança que houvesse algum espetáculo.
A nossa pontaria não podia ser pior. Dessa vez, no restaurante em que estávamos só havia a cerimónia local de beber Kava (uma espécie de chá local) enquanto no hostel que tínhamos visitado na primeira noite havia uma festa na praia com direito a fogueira.
Não nos deixámos ir a baixo e dividimos uma pizza e uma garrafa de vinho. Estávamos nas Fiji, era a nossa última noite e tínhamos de celebrar (e não era com Kava que íamos alegrar o espírito).
No restaurante ainda encontrámos o pai e os filhos que tínhamos conhecido em Cloud 9 que nos acenaram da mesa deles e nos cumprimentaram.
Quando pensámos em regressar, decidimos que íamos espreitar a festa ao lado porque parecia animada. O Leo precipitou-se e comprou uma bebida mas quando demos por nós, percebemos que estávamos a entrar numa festa de aniversário e daí a fogueira e o DJ que agora só passava os hits indianos mais recentes. Não ficámos mais de 10 minutos até apanharmos o táxi de regresso ao resort.
Com a manhã seguinte em mente deitei-me mas estava numa ansiedade e antecipação tal que nem dormi como deve ser. Devo ter acordado por volta das 5h30. Despachei a arrumação das malas e abandonei o Leo para me encontrar com o meu motorista que às 6h45 em ponto apareceu na recepção.
Entrei na carrinha e éramos só os dois. Começámos aquela conversa típica de taxista. Chamava-se Kotto e quando lhe disse que era portuguesa e que vivia do outro lado do mundo ficou doido. Nunca tinha conhecido um português e achava incrível como é que eu, ainda por cima sem ser surfista, tinha decidido ir sozinha ver o campeonato.
Fez mil perguntas sobre como era Portugal e depois foi a minha vez de lhe perguntar sobre as Fiji e especialmente sobre o surf por aqueles lados.
Ele começou a contar-me que tinha ido buscar a Carissa Moore e o Mick Fanning uns dias antes ao aeroporto e eu comecei a entrar em êxtase. Não estava a acreditar que ia para onde ia e que estava onde estava.
A nossa paragem seguinte foi o Hilton. A entrada e o sítio já não me eram estranhos. Na nossa carrinha entrou um australiano, pai de família com 30 e poucos anos que viria também no meu barco.
Depois do que me pareceu uma eternidade na estrada (ainda parámos para ir buscar uns snacks locais para ter a bordo) lá demos com o cais por volta das 8h30. No local encontrei dois asiáticos e o condutor do nosso barco. Seríamos só os 5 naquele dia.
O homem que tinha trocado e-mails comigo também lá estava e avisou-me que o campeonato não estava on e não havia certezas se iria ter início e que por isso ele me faria um desconto de qualquer forma. (A aventura acabou por me ficar 20€ mais barata.)
O australiano e os asiáticos não tinham as mesmas intenções que eu. Estavam a bordo para surfar e como o campeonato ainda não tinha tido início íamos para o pico que eles escolhessem um bocado e no tempo restante iríamos ver o campeonato.
A ideia inicial até era eu ser "largada" no sítio da competição logo à partida mas como o outro barco da empresa estava sob aluguer da Rip Curl e os pros decidiram ir surfar, eu não tinha onde ficar no canal. Por isso acompanhei-os até ao primeiro break, Wilkes. No caminho passámos entre Tavarua e Namotu, as ilhas mais frequentadas pelos surfistas.
Lá atrás vê-se Cloudbreak (o break principal do campeonato; faltou-me visitar Restaurants, o break alternativo)
Ficámos lá duas horas, e eu como não surfo e estava imenso calor comecei a passar mal a bordo por isso decidi dar um mergulho. A temperatura estava de sonho e fiquei de molho tanto quanto pude. Aproveitei os banhos de sol e por volta das 11h, o Rateek, capitão indiano a bordo fez sinal para os nossos três surfistas regressarem à base, era a minha vez de me divertir, o próximo destino era Cloudbreak.
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Quando cheguei sentia-me uma criança na véspera de Natal. Não conseguia parar de sorrir. Na água estavam a Stephanie Gilmore (ex-bicampeã mundial), a Laura Enever e a Johanne Defay (que viria a ganhar o campeonato).
Era o último heat da primeira ronda e também do dia. Eu nem queria acreditar que tinha estado aquele tempo todo e pago aquilo tudo para só ver um heat mas decidi que nem ia pensar no assunto e absorvi ao máximo a experiência.
Ver a onda, os barcos no canal, a organização. Não vou dizer nunca, mas a probabilidade de se voltar a repetir é bastante reduzida por isso fiquei ali delirar um pouco com a sorte que tinha. Deram o sinal que assinalava o fim da bateria e anunciaram que era tudo por hoje. O Rateek ficou a sentir-se mal por mim e disse que ficava ali o tempo que quisesse para eu tirar fotografias e a ver o break.
Eu fiquei só até todas as surfistas apanharem os seus water taxis de volta às ilhas e dei luz verde para seguir. Os meus amigos a bordo ainda tinham mais uma par de horas para aproveitar dentro de água e eu não ganhava nada em fazê-los perder esse tempo.
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Eles decidiram experimentar a esquerda de Namotu onde a água é o mais turquesa que eu já vi. Nem na Grande Barreira de Coral tinha visto algo assim.
No caminho ainda vimos golfinhos mas o chinês que estava a bordo e ficou com o meu e-mail para me enviar fotografias nunca chegou a cumprir com o prometido. Ainda estou à espera.
O Rateek que se ainda se sentia culpado por só ter visto uma bateria foi a outro barco da empresa buscar dois kits de snorkeling e enquanto os outros surfavam, equipou-se comigo e foi-me mostrar os recifes locais. (Vinda da Austrália, aqueles recifes deixavam muito a desejar mas mesmo assim foi bastante atencioso da parte dele).
Quando o nosso Fiji time terminou fizemos o caminho de regresso ao cais onde o Kotto nos esperava para nos levar em segurança de volta aos nossos hotéis. Despedi-me ao longe de Tavarua e Namotu, com uma pequena auto-promessa de que faria de tudo para que não tivesse sido a última vez a visitar a zona.
Cheguei ao hotel e o Leo estava na recepção, já tinha regressado dos seus passeios. Organizámos as malas por causa dos limites de peso e aproveitámos o último par de horas na internet.
Como já tínhamos feito o check-out nem tive oportunidade de tomar banho. Entrei no avião ainda com aquela camarinha de sal de quem passou o dia na praia (que quem me conhece sabe que odeio).
Saí quase sem noção de que tinha entrado. Foi tão bom que nem pareceu real, ainda que com percalços (tipo baratas e osgas no quarto) e situações engraçadas (como tentar enviar um postal para Portugal e ter de colar 3 selos no mesmo postal), voltava e espero voltar (um dia quando for rica e tiver dinheiro para ficar numa ilha e não em Nadi, definitivamente).
Agora de regresso à minha motherland temporária e à vida das camisolas de lã e dos casacões de inverno.
24 a 29 de Maio
P.S. Eu sou a maior desnaturada que anda a deixar este blog morrer e que mais grave ainda, não escreveu sobre NENHUMA das maravilhas que viu no país mais incrível que passou nos últimos 4 meses (obviamente refiro-me à Nova Zelândia); agora no período de exames vai ser impossível, mas dia 20 abandono esta segunda casa para ir visitar a Madalena à dela e como ela vai estar em preparação para o exame que tem dia 23 vou dar tudo nesse intervalo de 3 dias para fazer o relato completo do que foram os (melhores) tempos aqui.